7.2.17

o amor já não é o que era

Ainda sou do tempo (por mais que deteste começar uma frase assim) em que era incentivado a socializar com pessoas. E com raparigas caso passasse pelos meus planos ter uma namorada. Era incentivado a fazer parte de um mundo real. Que me era apresentado como sendo o melhor possível. E as minhas opções não eram muitas. Recuando muito no tempo, podia entregar um bilhete a uma rapariga de quem gostava. E, mais tarde, tinha de perder a timidez e meter conversa com alguém.

Tal como hoje também existia o medo da rejeição. Quem nunca pensou que não estava à altura da pessoa x, y ou z? Todos! Mas esse receio tinha de ser confirmado (ou desmentido) com base em algo real. As relações eram assim. E assim é que realmente faz sentido. Mas isto faz parte do passado. Hoje o amor é cada vez mais virtual. É cada vez mais com base numa qualquer aplicação. E, mais tarde, se houver tempo talvez seja algo real que vá muito além de alguns minutos de sexo.

É a aplicação que nos permite conhecer quem está por perto e pronto para sexo. Ou para amar. Mesmo que seja amor de curta duração. Depois é a aplicação que é uma alternativa a esta. Depois é aquela que é alternativa à alternativa. E ainda a alternativa da alternativa da alternativa. E por aí num efeito bola de neve. É a aplicação do amor. É a aplicação do sexo. É a aplicação onde o amor acontece mais rápido. É a aplicação onde o sexo é ainda mais fácil. Isto é o amor nos dias que correm.

Não escondo que tudo isto é óptimo para a barreira da timidez. Mas após a passagem por todos os filtros de todas as aplicações irá ser necessário um contacto físico. E a timidez terá de vencer aquilo que não precisa de combater numa aplicação e em mensagens que se trocam no mundo virtual. A não ser que o amor fique sempre nesse registo virtual, onde muitos são aquilo que nunca vão ser. Onde todos têm os corpos que afinal não têm. Onde falta quase tudo aquilo que faz falta ao amor.

Nada tenho contra as aplicações. Mas olho para elas como um complemento de algo. Como o actor secundário de um filme e nunca como a estrela maior de uma longa-metragem. Só em filmes daqueles de que ninguém gosta e de que ninguém se irá lembrar no futuro.

2 comentários:

  1. Eu ainda sou do tempo em que se passava um bilhetinho na sala de aula para a pessoa interessada e que dizia: "Queres namorar comigo?". E tinha abaixo desta pergunta dois quadrados, um com a opção "sim" e outro "não". E fazia-se a cruz no quadrado que se queria, devolvendo-se o bilhetinho, pela mesma via, à sua origem. A excitação naif que era, depois, no intervalo seguinte, com toda a turma a "participar" na festa: Olh'os namorados!!
    Anos mais tarde, perguntava-se directamente: Queres curtir comigo? Era este o primeiro passo para "andarem".
    Já adultos: Queres namorar comigo? Assim, sem elaborações, directamente. Prontos para tudo.
    E, em todas as idades, lidava-se com as respostas recebidas. Ora chorando baba e ranho por dois looooongos dias miseráveis, quando a resposta era "não"; ora anunciando aos sete ventos que o objecto do seu amor tinha respondido "sim". Tudo era tão simples!...

    Actualmente, nem sei muito bem como os miúdos e teenagers fazem mas, a avaliar pelos adultos, é muito complexo, sim!
    Há largos anos que defendo que a internet não pode tirar o protagonismo à comunicação inter-pessoal presencial. Não para todas as situações, óbvio. Tomando como exemplo o teu blogue, como seria possível comunicares com todos os teus leitores, talvez alguns conhecidos mas, na sua maioria, perfeitos desconhecidos?
    As falhas dão-se, como dizes e muito bem, quando não existe senão uma relação virtual. Atenção, que eu encaro está forma moderna de conhecimento, apresentação, aproximação, tão legítima quanto qualquer outra! Mas há que viver na e da realidade. Que, pelo menos para mim, é ainda a melhor app de sempre! ;)

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    1. O teu comentário diz tudo. Deverá ser sempre um complemento e não a via principal para algo.

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