31.3.19

até falava da colecção de roupa unissexo da zippy, mas prefiro falar de moçambique

Por estes dias só se tem falado da supostamente polémica colecção de roupa da Zippy. Parece que meio mundo está escandalizado com as peças de criança que se destacam por ser sem género. Algo que no meu tempo, e só tenho 37 anos, se chamava unissexo. Como não encontro nada chocante nisto, não perco tempo a alongar-me sobre o assunto. É o que é e só compra quem gosta. E pelas fotos parecem ser peças bem giras.

Prefiro centrar-me na catástrofe que assolou Moçambique. Já perdi conta ao número de peças jornalistas que vi sobre o assunto e em todas fiquei emocionado. Sendo que destaco algo que encontrei em todas elas. Estou a falar da total ausência de uma vontade cega de culpar alguém. Ninguém perde tempo a culpar este ou aquele.

Vi uma peça em que um homem, descalço, andava no meio da lama a limpar estradas. Este homem tinha ficado sem casa e dizia apenas que os trabalhos corriam dentro do previsto. Vi uma mulher grávida que só deseja uma casa para que o filho possa nascer, dizendo que o passado era isso mesmo. Vi pessoas falarem de pessoas que viram morrer com uma postura completamente diferente.

Aqui, andamos a discutir a polémica em relação a uma colecção de roupa. Já aquele povo, que lida com uma tragédia que não se deseja a ninguém, ensinam uma lição que só não aprende quem não quer. Ou quem prefere olhar para peças de roupa como se fossem balas ou bombas atómicas.

27.3.19

pessoas, trânsito e radares

Quando o tema é o trânsito e os radares, existem três grandes grupos de pessoas:

1 - Tanto faz, para o bem ou para o mal
Estas são aquelas pessoas que passam pelo aviso de radar e pelo radar sempre à mesma velocidade. Algo que funciona para o bem, quando estão dentro dos limites da lei. Ou para o mal, quando vão em excesso de velocidade.

2 - Aquilo que importa é mesmo o aviso, não é?
Neste grupo estão aquelas pessoas que reduzem a velocidade quando passam no aviso de radar, que acende a luz porque estão com excesso de velocidade. Neste momento reduzem e depois passam pelo radar em excesso de velocidade. Estas pessoas acreditam que o que poderá ditar a multa é o excesso de velocidade no aviso. E que passar dentro dos limites pelo mesmo é uma espécie de cartão "livre da prisão" do Monopólio.

3 - Será que já estou fora de alcance?
Aqui estão aquelas pessoas que passaram por um radar no Algarve e que no momento em que estão quase a chegar ao Porto acreditam que ainda podem ser apanhados pelo radar algarvio.

4 - Radar, vamos travar!
São aquelas pessoas que travam quando estão a passar pelo radar.

Só falta saber a que grupo pertences.

21.3.19

apaixonei-me e o sonho de uma vida destruído por um parvo

Sempre gostei dos The Killers. Mas recentemente apaixonei-me pela banda liderada por Brandon Flowers. De uma música saltei para o concerto do Royal Albert Hall, que teve lugar em 2015. E daí andei a saltar de música em música e de concerto em concerto. Com especial destaque para aqueles que a banda de Las Vegas deu no ano passado.

Enquanto assistia ao concerto dado na Escócia, percebi que os The Killers deixam uma pessoa do público subir ao palco para tocar bateria no tema “For Reasons Unknow”. Neste caso foi Tony que teve o prazer de tocar com a banda que admira. E que show deu o puto! Já no Brasil foi a apresentadora (algo desconhecido por Brandon Flowers) Dedé Teicher quem teve a oportunidade de tocar para dezenas de milhares de pessoas. Podem ver as duas actuações nos vídeos.



(A partir dos 23 minutos)



(A partir dos 37 minutos)

Se fosse músico e baterista, teria o maior prazer em tocar com uma das minhas bandas de eleição. E é isso que acredito aconteceu com Dedé e especialmente com Tony, que parece um menino que acaba de receber o melhor presente de Natal de sempre. Isto para não dizer que sabe tudo na perfeição.

Por outro lado, a banda corre um risco enorme quanto toma esta decisão. Porque nem todas as pessoas são bem intencionadas. Depois da actuação de Tony, Brandon Flowers fala do desastre que tinha acontecido na Bélgica. Fui pesquisar o concerto e deparei-me com um parvo, que não tem outro nome, que simplesmente não toca bateria.



(A partir dos 40 minutos)

Gostei da forma como Brandon Flowers resolveu a situação, tal como recusou tocar a música enquanto o rapaz não saísse do palco. E quem tem este tipo de comportamento acaba por roubar a oportunidade de alguém, como aconteceu com Tony, realizar o sonho de uma vida. Tal como pode levar a banda a decidir colocar um ponto final neste iniciativa. Até tentava perceber o que leva alguém a fazer isto em cima de um palco, passando por parvo num vídeo que irá ser visto em todo o mundo. Mas prefiro ir ver o jovem escocês a arrasar novamente.

19.3.19

maddie. pais. comportamentos e polémica

O documentário da Netflix sobre o “desaparecimento” da pequena Maddie trouxe o assunto de volta à agenda mediática. Em relação ao documentário não posso dar uma opinião porque ainda não o vi na totalidade. Mas posso (e vou) opinar sobre os comentários que tenho lido nas redes sociais, onde o assunto voltou a estar em destaque.

Muitos pais estão estupefactos com a quantidade de pessoas que coloca a hipótese de que a criança tenha morrido na sequência de um acidente e que os pais tenham feitos os possíveis para encobrir o sucedido. Para estes pais é impossível que um pai possa estar implicado, mesmo que por negligência, no desaparecimento de um filho.

Estes pais também consideram normal e aceitável que se deixem filhos sozinhos num apartamento enquanto se vai jantar e beber uns copos de vinho na companhia de amigos. Para estes pais tudo está bem porque até existia um plano para verificar as crianças enquanto estas dormiam sozinhas num apartamento.

Não sou pai. Mas choca-me que existam pais que achem que isto é normal e aceitável. “É algo cultural e normal para eles”, dizem. Se este é o modo de raciocínio, vamos aceitar aqueles países que tratam as mulheres como seres inferiores e que as maltratam. É que nestes países é algo normal e culturalmente aceitável.

Tenho a minha opinião sobre o que terá acontecido naquela noite. Mas não é isso que está em causa. Só não me peçam para ofender as forças policiais portuguesas e defender pais que deixam filhos sozinhos para ir jantar e beber uns copos com amigos. Para isso, não contem comigo. Por mais que seja normal para eles. Por mais perfeito que seja o cenário, existe sempre um risco grande de acontecer uma tragédia. Seja ela qual for.

Basta recordar o caso daqueles pais que também tinham o hábito de deixar o(s) filho(s) sozinhos enquanto iam para o casino. E como exercício de memória, é ver o tratamento mediático, político e mesmo judicial com que foram tratadas duas situações em tudo semelhantes, com a diferença que num dos casos existe um corpo.

12.3.19

isto é tudo muito bonito até que aparece uma atriz porno

Vamos começar pelos clichés:

- As mulheres devem apoiar-se umas às outras;

- Não devemos julgar os outros pela aparência;

- Todos merecemos uma segunda oportunidade;

- Não devemos rotular alguém apenas por uma coisa que fez;

(E podia passar o dia a debitar frases feitas que ficam sempre bem partilhadas numa rede social)

Mas tudo isto vai por água abaixo quando aparece uma atriz porno nas nossas vidas. Quando isso acontece, as mulheres não se defendem umas às outras. Nesse momento, julgamos as pessoas pela aparência. E não existem segundas oportunidades. Fazemos questão de rotular as pessoas pelo que escolheram fazer em determinado momento das suas vidas.

Sónia Gomes está a tentar a sua sorte no amor no segundo programa televisivo. Já tenha tentado ser feliz em "First Dates" e agora aparece em "Quem Quer Casar com o Meu Filho?". Mas esta não é uma concorrente qualquer. Esta é uma antiga atriz porno. E todas as pessoas devem saber isso. Porque fazemos questão que assim seja. Até porque uma "porca" que "fazia sexo" em filmes badalhocos não é boa para ninguém.

Nenhum concorrente de nenhum programa é um antigo pasteleiro que agora trabalha numa loja de desporto. Ninguém é rotulado de nada. Menos quando queremos salientar algo que achamos negativo. E Sónia nunca será Gomes, será sempre Kel. Será sempre uma "vaca" e uma "porca" que aparecia em filmes para adultos. E todos temos direito a clichés fofinhos, menos a Sónia e pessoas como ela. Porque gente dessa não presta. É o que temos.

que mal é que eu fiz a alguém?

Acho que já todos passámos por isto. Quando não conseguimos realizar algo que muito desejamos, ou simplesmente quando um plano corre mal, damos por nós a perguntar: "que mal é que eu fiz a alguém?". Tentamos encontrar uma justificação que passe por algo que não nos diz respeito. Por algo ou alguém que está a impedir a nossa felicidade, independentemente da forma como é medida, de ser plena.

Não sei se isso acontece com quem está a ler este texto, mas assumo que acontece comigo. Já dei por mim, em diversas ocasiões, a pensar nisto. E quanto mais penso, mais profundos e alargados são os pensamentos. Dou por mim a pensar em coisas como "deve ser porque não mereço", "devo estar a pagar pelo mal que fiz a alguém", "não é para mim" e por aí fora. É certo que não costumo encontrar uma resposta, mas penso nestas e em muitas outras hipóteses.

Depois, dou por mim a pensar no tal destino e naquilo que está eventualmente programado para nós e que não depende das nossas vontades. Até que ponto isto é verdade. Até que ponto é que somos nós que temos o poder de escolher tudo aquilo que desejamos, sem depender de nada ou de ninguém. E mais uma vez, são mais as dúvidas do que as certezas.

O que é certo é que, enquanto penso nisto, existem coisas que se realizam e outras que vão ficando para trás. Coisas que continuo a desejar e outras que começam a fazer com que acredite noutras coisas, noutras realidades. E se há dias em que estas deambulações até têm a sua piada, noutros são uma merda. Haverá quem diga que esta é a piada da vida ou que devemos lutar por tudo o que queremos, mas não sei até que ponto será mesmo assim.