28.12.22

viver num estado que não controlo. vai dar asneira, certo?

Num destes dias ouvi algo como isto. “Não gosto de estar bêbado. Não gosto de estar drogado. Não gosto de excesso de velocidade. Não gosto de nada que não controlo”. E fiquei a pensar nisto. Até porque a pessoa que teve este desabafo disse que eram estados em que é possível, de uma forma mais intensa, cometer erros e estragar a vida que tem.

E acho que há um grande fundo de verdade neste desabafo. É certo que podem dizer-me que são estados – alguns deles – em que podem acontecer coisas divertidas e positivas. Mas acho que ninguém pode negar que são estados em que fugimos mais do que somos habitualmente. Em que não existe um filtro fundamental no quotidiano. E quando isto acontece, rapidamente cometemos erros. Damos passos mal medidos. E somos protagonistas de acções que ficam na cabeça durante muito tempo. E das quais provavelmente nos arrependemos.

Analisando os aspectos positivos e negativos de viver em estados que não são normais, tendo a dar razão a este desabafo. Acho que é como o código postal, meio caminho andado para dar asneira. Certo?

27.12.22

diz-me baby ou uma grande música que provavelmente não irás ouvir

Muitas vezes cruzo-me com publicações, nas mais diversas redes sociais como é o caso do TikTok, em que alguém partilha músicas que considera boas e que provavelmente nunca ouvimos. Já dei por mim a conhecer temas que provavelmente, lá está, nunca iria ouvir. Já dei por mim a ouvir temas (nem sempre originais) que acabam por se tornar num mega sucesso devido às redes sociais.

E estou a recordar-me disto porque estive a ouvir Diz-me Baby, o tema mais recente do Siraiva. Que na minha opinião é um músico muito talentoso que não tem o reconhecimento devido. Podia enumerar temas da sua autoria de que gosto bastante. Aliás, um deles deu origem a um texto (entre outros) bastante comentado no blogue. E lamento que assim seja. Lamento que o tempo na rádio não seja o mesmo para outros nomes de determinadas editoras.

Quando vou a Espanha ficou feliz quando ouço música espanhola vinda de quase todos os carros. Ou de espaços comerciais. Não me chocaria ouvir hits internacionais, mas fico satisfeito quando abraçam aquilo que tem selo nacional. E gostava que por aqui fosse assim. Sendo que continua a não ser. Mais facilmente aceitamos um qualquer projecto internacional do que revelamos disponibilidade para descobrir o que é nosso. A música portuguesa parece quase uma droga que se vende às escondidas e que é consumida no recato, para que ninguém saiba que o fazemos.

Sendo apenas um grão de areia num gigantesco deserto, faço a minha parte ao dar a conhecer aquilo que é bom e que é nosso. Daí partilhar aqui o tema mais recente do Siraiva. Existe uma infeliz probabilidade de que não o ouças em muitos sítios. Mas vale mesmo a pena. Por isso, ouve aqui um grande tema que talvez não ouças em mais lado nenhum. E que tem tudo para ser um hit de 2023.

22.12.22

depressão e um tiro na cabeça

Durante muito tempo tive uma rotina para as noites de sexta-feira. Ia buscar pizza e jantava com a minha mulher no chão da sala. Isto enquanto víamos na televisão o So You Think You Can Dance.

Foi deste modo que conheci o tWitch. Que rapidamente se tornou num dos meus preferidos. Desde então que fui acompanhando o que fazia e, por exemplo, dei por mim, durante o confinamento, a fazer uma aula de dança com ele e com a mulher num live nas redes sociais.

É certo que não conhecia o tWitch de lado nenhum. Mas fiquei de rastos pela notícia da sua morte. Com o relato do suicidio na casa de banho de um quarto de motel. Pensei imediatamente nos filhos pequenos e na mulher. E desde então que dou por mim a pensar nele e na vida.

Não se deixem levar pelas aparências. A depressão não ataca apenas quem está na “merda” e tem problemas na vida. Também afecta quem tem a vida com quem sempre sonhou e está sempre de sorriso estampado no rosto.

Cabe a nós olhar por todos os que nos rodeiam. Perguntar se estão bem. Não deixar aquele telefonema para o amanhã que é sempre amanhã. Não se deixem iludir pelo “esse está bem na vida que tem tudo” porque pode não ter nada. Foquem-se nas coisas boas da vida e estejam lá em todos os momentos. Para que cada vez menos pessoas pensem que a melhor solução é morrer.

7.12.22

devemos agradecer a cristiano ronaldo?

Desde a polémica entrevista a Piers Morgan, que culminou com a saída do Manchester United, que muito se tem falado de Cristiano Ronaldo. Sendo que o foco nos últimos dias está na prestação do jogador português no Mundial e no seu comportamento em dois momentos distintos: uma substituição e o jogo começado no banco de suplentes (algo que não acontecia desde 2006 em jogos de grandes competições de selecções).

Tenho-me deparado com muitas críticas ao jogador português, o que me leva à questão que dá título a este texto. E a resposta é simples! Sim, devemos agradecer a Cristiano Ronaldo. É dos melhores jogadores que alguma vez vi jogar (e felizmente vi muitos talentos ao vivo). É um atleta fora de série. E tem sido, segundo quem com ele trabalhou, um profissional de excelência. Isto são factos inquestionáveis. Por isso, e sem sombras de dúvidas, todos os portugueses devem agradecer a Cristiano Ronaldo. Tal como o jogador deve estar grato a todos os portugueses que sempre o apoiaram. Muitos gastam dinheiro que não têm para o ver jogar ao vivo. Outros fazem das tripas coração para oferecerem aos filhos camisolas dos clubes em que joga. Ou da equipa de todos os portugueses. Resumindo, em momento algum deveremos esquecer tudo aquilo que Cristiano Ronaldo fez pelo futebol português.

Agora, tudo aquilo que escrevi até este momento não justifica que Cristiano Ronaldo possa dizer a Fernando Santos (ou a outro qualquer treinador) aquilo que disse no momento em que foi substituído. Tal como não torna menos grave que abandone o campo no momento em que todos os colegas saúdam o público depois de uma das melhores exibições dos últimos anos. E isto para mim tem um simbolismo maior porque Cristiano Ronaldo é o capitão da equipa de todos os portugueses. Não é a braçadeira do Sporting, Manchester United, Real Madrid ou Juventus. É a braçadeira da nossa selecção. Que tem um peso enorme. E que acarreta obrigações que não podem ser relegadas para um plano inferior em detrimento de valores pessoais.

Cristiano Ronaldo é um dos melhores jogadores de todos os tempos. Isto é um facto. Mas é igualmente verdade que já não é o mesmo jogador que era quando tinha 20 anos. E esta é a lei da vida. Olhamos para Cristiano Ronaldo e vemos um monstro físico. Um verdadeiro animal no bom sentido. Mas a velocidade não é a mesma. Existem muitos detalhes que acabam por ser diferentes. [Podemos falar do exemplo do Pepe, que perto dos 40 anos parece um jogador melhor do que quando tinha 20. Mas a posição é diferente. Por isso é que vemos maior longevidade – a alto nível – em defesas do que vemos em avançados] A isto junta-se um início de época sem a preparação ideal (ou igual à dos colegas) e uma época de menos utilização. Sem esquecer o mais importante de tudo: o impacto psicológico da morte de um filho. Se (à parte da tragédia familiar) juntarmos a tudo isto uma entrevista polémica, temos todos os ingredientes que uma carreira como a de Cristiano Ronaldo não merecia neste momento. E que cria a ilusão de que o jogador está a lidar de forma menos positiva com o aproximar do adeus aos relvados.

Resumindo, nunca terei palavras suficientes para elogiar tudo aquilo que já vi Cristiano Ronaldo fazer com uma bola nos pés. Nunca conseguirei colocar em palavras o impacto que teve no futebol português, no futebol mundial e na promoção de Portugal pelo mundo. Mas isto não me permite elogiar aquilo que fez quando foi substituído e o que fez quando abandonou o campo. Tal como estes episódios não apagam o talento o que tem. O que acontece é que as pessoas tendem a ter a memória curta e a relembrar as coisas mais recentes. O que faz com que, com tantas polémicas, muitos acabem por dedicar mais atenção aos últimos episódios da carreira de Cristiano Ronaldo.

Obrigado, Cristiano. E que mostres, no que falta do Mundial, que és o Capitão que todos os portugueses querem ver.