15.9.22

obrigado, roger federer

Sou jornalista desde 2006. Desde então que já tive a oportunidade de estar à conversa com muitas figuras públicas das mais diversas áreas. Devo ter meia dúzia (se tanto) de fotografias ao lado de alguém com quem estive à conversa. Autógrafos, muito menos.

A única excepção de que me recordo é Roger Federer quando passou pelo Estoril Open, em 2010. Cruzei-me com poucas estrelas (desta dimensão) com a simplicidade de Federer. Numa área em que o pensamento dominante é “sou o dono do mundo porque apareci 2 segundos na televisão”, Roger Federer é um exemplo de humildade e disponibilidade.

Foi assim com os jornalistas como com todas as pessoas com quem se cruzava a caminho do court e que atrasavam o seu percurso. Neste dia, e por ser algo que entendo que não devo fazer enquanto estou a trabalhar, pedi-lhe um autógrafo à saída da tenda da Comunicação Social. O momento ficou registado, sem qualquer pedido, pela lente da extraordinária Leninha (Helena Morais), uma das maiores fãs de Federer que já conheci.

Federer vai acabar a carreira e não será o ténis que irá perder uma lenda. É o desporto que fica mais pobre com o final da carreira de alguém que é um exemplo para todas as crianças que sonham um dia ser profissionais.

Obrigado, Roger Federer.

12.9.22

a imbecilidade a que chegou o futebol português

Sou do Benfica e nunca o escondi desde que tenho o blogue. Por outro lado, e porque o futebol nem sempre gera as melhores reacções, evito escrever sobre o tema por aqui. Mas esta história não pode ser ignorada. Porque é uma das maiores imbecilidades de sempre do futebol português. Sendo que, e antecipando o final, nada irá acontecer a ninguém.

Uma criança de apenas 10 anos foi obrigada pelos seguranças a ver o jogo entre o Famalicão e o Benfica em tronco nu. E porquê? Porque cometeu esse crime hediondo de ir ao futebol na companhia do pai com a camisola do clube de que é adepto. Só que o jovem benfiquista cometeu outro crime horroroso que foi o do seu pai ter comprado bilhetes para a zona em que estavam os adeptos do Famalicão.

E este é o ponto a que chegou o futebol português. Em que existem cada vez mais histórias que afastam pessoas do futebol. Por mais que queiram achar que temos um belo produto para vender, a verdade é que temos um futebol muito fraco. Cheio de episódios e de pessoas que estão a mais num desporto lindo. Queremos ver famílias nas bancadas, mas depois não deixamos que essas crianças sejam livres.

Reforço que era apenas uma criança. De somente 10 anos. Que acabou a ver o jogo em tronco nu. E que certamente continuará a não perceber o motivo pelo qual teve de se despir para ver um jogo de futebol. Enquanto isto, e de acordo com declarações do pai, os seguranças disseram estar a fazer o seu trabalho e a cumprir as ordens do organizador do jogo: o Famalicão. Por sua vez, o clube ainda não se pronunciou sobre o sucedido.

E é isto… Realço apenas que nada tenho contra o Famalicão nem contra os seus dirigentes. Mas há muito para mudar no futebol português. Que bate mesmo no fundo quando acontece algo como isto. Triste, muito triste.

8.9.22

e essas pessoas parvas que gastam fortunas para ver os ranhosos dos coldplay

O título deste texto é uma forma de resumir aquilo que fui lendo relacionado com os concertos que os Coldplay vão dar em Portugal. Basicamente, aqueles que decidiram comprar bilhete não passam de pessoas parvas. Por sua vez, a banda aparenta não ter qualquer qualidade. Ou seja, nada de novo no mundo virtual.

Agora, o outro lado da questão. Goste-se ou não da música que fazem, os Coldplay são uma das maiores bandas da actualidade. Além disso, o grupo tinha feito uma pausa nos concertos até arranjarem forma de que os espectáculos tivessem uma menor pegada ecológica. Mais, Chris Martin já fez saber que a banda irá terminar dentro de qualquer coisa como cinco anos. Vão existir mais dois álbuns e existe a possibilidade de que o final dos Coldplay seja com um musical.

Depois, nem todas as bandas passam por Portugal. O que leva a que alguns portugueses se desloquem ao estrangeiro para ver os grupos da sua preferência. A isto junta-se o local do concerto, que tem capacidade para “apenas” 30 mil pessoas. Ou seja, estes ingredientes fazem com que, de forma natural, os bilhetes esgotem em poucos minutos. E acho que isto não choca (ou não deveria chocar) ninguém. Acontece com muitos espectáculos e com, por exemplo, jogos de futebol.

Por fim, ofender quem gasta dinheiro num bilhete para um concerto. Os preços dos bilhetes começavam nos 65 euros e iam até aos 500. Cada qual sabe de si e não sou ninguém para criticar uma pessoa que decide gastar dinheiro (que é seu) em algo. Cada qual faz a sua gestão e escolhe ver o que tem interesse. Acho que deveria ser tão simples quanto isto, mas é muito mais fácil ofender tudo e todos.

1.9.22

desabafos de pais reais que dizem asneiras e gritam com os filhos

As pessoas costumam aproveitar as redes sociais para partilharem o lado bom da vida. Independentemente de ser uma partilha profissional ou pessoal, existe uma tendência para que seja dado a conhecer aquilo que nos faz bem e deixa bem. E isto aplica-se também ao lado parental da vida de cada um. É frequente ver os pais a partilharem bons momentos passados ao lado da criançada. Sendo que também existem alguns desabafos daqueles que são vistos como “pais reais” que dão conta de diversos episódios menos felizes ao lado dos filhos. E que podem ser pautados por gritos e asneiras. E é disto que quero falar. Porque compreendo na perfeição estes desabafos mas não me revejo nos mesmos.

Vamos começar pela compreensão. A maior parte das pessoas passa a vida a correr de um lado para o outro. Estar com o filho é algo que, às vezes, se tem de fazer a par de mil tarefas. Existe depois a privação de sono. Existem as birras. Existem mil e uma coisas com que os pais têm de lidar. Uns com mais, outros com menos. Por isso, compreendo que algumas pessoas acabem por se “passar” com os filhos. Sendo que tenho a certeza de que todos se arrependem dos momentos em que se apercebem de que estão a gritar por nada de extraordinário. E que o grito não foi tão eficaz com pensavam.

Agora, a parte de não me rever. Não vou mentir. A minha filha também tem os seus momentos de birra. Que felizmente, não são muitos. Também acorda a meio da noite e pede colo. Ou seja, também tem os seus momentos em que me poderia tirar do sério. Quer seja pelo cansaço acumulado ou por outro motivo qualquer. Só que gritar com a Matilde, dizer asneiras, berrar com ela, ser bruto ou o que quer que seja não é uma opção para mim. Numa fase inicial da vida de pai irritei-me com a Matilde porque não queria adormecer. Poucos minutos depois tive a noção de que tinha errado. De que tinha sido injusto. E que o meu comportamento não serviu para mais nada do que irritar a minha filha ainda mais. Senti-me mau pai. Fiquei a sentir-me mal com o erro e desde então percebi que não era o rumo que queria seguir. E que não voltaria a fazer o mesmo.

É por isto que digo que não me revejo nos tais desabafos de quem se passa com alguma frequência. Desde aquele episódio que passei a fazer tudo de forma diferente. Há uma birra? Tento conversar com a Matilde. Está bastante irritada? Dou-lhe tempo para que acalme. Não quer fazer algo? Explico as consequências que isso poderá ter, a nível de tempo, para o que ainda quer fazer no resto do dia. E este tem sido o modo como tenho lidado com os menos em que a Matilde faz birra ou está mais agitada. Se isto faz de mim melhor pai do que aqueles que gritam, dizem asneiras e fazem isto ou aquilo? Não! Não faz de mim melhor nem pior. Esta é simplesmente a forma como decidi lidar com a minha filha.

Aproveito ainda os tais desabafos (e a minha experiência enquanto pai) para defender a opinião de que ser pai é um dos maiores desafios da vida. A começar logo pela momento em que temos uma vida que depende de nós. E isto será um desafio que se prolonga ao longo da vida. Mas é também um desafio para a própria pessoa. Para o casal. Para a vida a dois. Tudo isto acaba por ser testado com a chegada de uma criança. E creio que todos aprendemos muito com aquilo que fazemos. Que seja com o filho, com a pessoa com quem estamos ou mesmo em relação a quem somos.