9.8.22

sobre esta coisa do “foste pai tarde”

Fui pai em 2020 quando tinha 39 anos. E desde então que tenho ouvido algumas vezes algo como “foste pai tarde”. Sendo que incluo estas palavras naquele segmento de chavões a que as pessoas recorrem quando acham que têm que dizer alguma coisa. Digo isto porque sei que muitas pessoas não o dizem por mal – nem é algo que me incomode – mas também acredito que dizem apenas porque sim.

Nos dias que correm é cada vez mais comum ver pessoas que são pais (pela primeira vez) perto dos 40. Aliás, numa das consultas que tivemos, uma médica disse à minha mulher (ligeiramente mais nova do que eu) que ia ser mãe nova tendo em conta os tempos que vivemos. E este pode ser o ponto de partida para a minha opinião. Longe vão os tempos em que a generalidade dos casais tinha filhos aos vinte anos e em que as mulheres ficavam em casa e tinham como “profissão” estar com os filhos.

Hoje, tudo é diferente. A estabilidade financeira não chega muito depressa. As relações estáveis nem sempre acontecem em tenra idade. E tanto homens como mulheres dão prioridade, até certa idade, às carreiras. Adiando assim o desejo de ter um filho. E o caso das mulheres até dava para um texto à parte. Porque muitas, apenas para dar um exemplo, adiam o desejo com medo de perder o cargo que têm. Este é um ponto.

Depois, há outros casos. Tal como existem pessoas que acham que fui pai tarde, vejo pessoas que entendo (na minha modesta opinião) terem sido pais demasiado jovens. Vejo pais sem qualquer preparação (entre aquelas que podemos antecipar) para o nobre cargo que desempenham. E até prefiro não aprofundar muito este ponto com receio de ser mal interpretado. Vejo também casais que têm filhos sem qualquer base sólida entre ambos. E podia dar mais exemplos.

Quando era mais novo costumava dizer que queria ser pai aos 25 anos. Mas cedo percebi que seria complicado. Algo que a vida me ensinou. E tenho a certeza de que fui melhor pai com 39 anos do que seria com 25 anos. E não acho que tenha sido pai tarde porque isso seria olhar para mim como “velho”. É certo que podemos recorrer à matemática para fazer contas e sustentar esse pensamento do “tarde”. Mas, mais uma vez, não é assim que vejo as coisas. Porque conheço pessoas de 20 anos que são velhas e conheço pessoas com mais de 50 que são muito jovens. Concluindo, os chavões também se desactualizam. E ser pai não é algo que possa ser sustentado com uma equação matemática.

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