24.8.22

o erro (será a palavra certa?) de amar alguém que não conhecemos

Sou fã da série de documentários da Netflix Histórias do Desporto. O mais recente que vi é sobre a história de Manti Te’o. E antes de avançar faço um pequeno aparte. Não gosto de falar sobre o conteúdo de filmes e séries, mas abro uma excepção nos documentários. Esta é uma história verídica e muito badalada na época.

Manti Te’o era a grande estrela do futebol americano universitário. O desportista, hoje com 31 anos, tinha todas as grandes universidades atrás de si. Deu-se ao luxo de escolher uma em que poucos acreditavam. Optou por fazer o último ano de faculdade em vez de ir logo para a NFL. E no meio de tudo isto cometeu o erro (será a palavra certa?) de se apaixonar por alguém que nunca viu.

Apesar de ser uma grande estrela do desporto, Manti Te’o saltou para a capa de muitas publicações no dia em que revela que a avó e a namorada morreram na mesma noite. O jogador faz uma grande época que dedica às duas e estes ingredientes dão ainda mais força à sua história. Até ao dia em que é feita uma denúncia que a namorada de Manti não existia. E acabou por se tornar público que o jogador mantinha uma relação com um homem que se fazia passar por mulher e que o casal nunca se tinha encontrado. Este escândalo teve impacto na vida desportiva de Manti. Teve impacto na sua vida pessoal e fez com que fosse alvo de muitas piadas ofensivas.

Agora, vamos recuar no tempo. Isto teve início em 2008, numa era em que existiam poucas redes sociais e que ninguém sabia o que era catfishing. Manti recebe um pedido de amizade no Facebook e fala com o amigo em comum que tinha com a pessoa por quem se viria a apaixonar (homem que usava fotos de uma mulher). O primo diz que conhece a pessoa. Fala ainda com outros homens que tiveram relação com a mulher e todos dizem que existe. Ou seja, fez o que estava ao seu alcance. Depois, existe a ingenuidade de acreditar em todas as desculpas para que nunca se vissem. Mas quem ama não é ingénuo em algum momento?

Manti Te’o simplesmente perdeu-se de amores por um homem (preso no corpo de uma mulher) que estavam genuinamente apaixonado por si. E isto marcou para sempre a vida de um dos grandes desportistas do futebol americano universitário. No documentário é possível ver Manti a falar sobre tudo. Existem muitas entrevistas (como do outro protagonista da história – Ronaiah – que está num processo de transição) e chega a ser comovente ver a forma como tudo isto teve impacto na vida de ambos, em especial de Manti Te’o.

O atleta, que não enganou ninguém, é acusado de ser uma farsa. É alvo do gozo de muitas pessoas. E tudo porque se apaixonou por quem não conhecia. Recomendo o documentário (de dois episódios) porque há muito a aprender. Em especial como a forma como Manti Te’o encara os acontecimentos e a sua vida.

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