31.10.16

amarrados que soltam a franga (ou jantares convívio)

Volta e meia todas as pessoas – a partir de determinada idade – recebem aqueles convites onde se pretende, por exemplo, juntar a turma do liceu. Este é apenas um dos muitos motivos para jantares de convívio que reúnem pessoas que podem não estar juntas desde o último dia de aulas. Através das redes sociais encontram-se amigos perdidos, marca-se uma data, junta-se o pessoal restaurante barato e com bebidas à discrição. E depois escolhe-se um bar/discoteca onde a festa continua. Em muitos casos até se escolhe o local onde não se vai desde a noite do baile de finalistas (se ainda estiver aberto).

Estes jantares servem para várias coisas. Sendo que o convívio acaba quase sempre relegado para segundo plano. Existem pessoas que estão presentes pela amizade e saudades dos amigos que a vida acabou por distanciar. E isto deveria ser regra universal. Mas depois existem pessoas que gostam de se gabar de algo. A começar pelas carreiras. Há quem esteja presente para deixar claro que é o aluno que construiu uma melhor carreira.

Há também quem goste de se gabar dos filhos. Em quantidade, beleza e inteligência. Para estas pessoas os filhos são sempre os melhores em qualquer coisa. Existem também mulheres que gostam de ir a estes jantares de convívio para mostrar a boa forma física. Ao estilo de “continuo a ser a boazona que era e eles continuam a olhar todos para mim” e as outras são todas umas “gordas”. Existem homens que vão porque acham que ainda são os engatatões dos anos noventa. “Aposto que saio de lá com a não sei quantas que não tive oportunidade de fazer no liceu”, contam a um amigo noites antes do jantar convívio.

Existem pessoas que mentem, existem pessoas que fazem mil e uma coisas. E acaba por se perder o objectivo principal que passa por reunir amigos de longa data e recordar momentos de outros tempos. Aquilo que se desejava, aquilo que se construiu e por aí fora mas sem competições do melhor disto e daquilo. Dentro de todos estes grupos existe um que se destaca e que acaba por ser dos mais engraçados. E refiro-me aos “amarrados que soltam a franga” naquela noite.

Este grupo é composto por pessoas que já casaram há muito. E que por norma gostam de se gabar de coisas que não são reais. Gostam de brincar dizendo que mandam lá em casa. Que saem várias vezes, que isto e aquilo. Quando na realidade são pessoas para quem a relação implicou (independentemente do motivo) um adeus total à vida de solteiro. Ou seja, estas pessoas não saem com o marido/mulher nem com amigos nem com ninguém. Vivem “amarrados”.

Quando saem, algo que acontece quando alguém se lembra de fazer um jantar convívio (o que é raro), é a loucura. Bebem depressa demais. Ficam bêbados quando os restantes ainda estão a dar início ao prato principal. E a noite é sempre a subir... Quando chegam ao bar/discoteca para dar seguimento à festa já estão de camisa aberta e são os primeiros a subir para cima da coluna para dançar. Dizem tudo e mais alguma coisa. Existe a vantagem de não se recordarem de nada no dia seguinte.

Mas não deixa de ser curioso que é no momento em que as pessoas estão mais divertidas – não é o mesmo do que bêbadas – que o convívio fica melhor. Porque nessa altura as pessoas começam a esquecer os personagens que decidiram levar para o jantar com medo de ficar atrás deste ou daquele com quem competiam nos tempos do liceu. Nessa altura tudo é melhor e mais sincero.

7 comentários:

  1. E que nao seja cusco. Que nao comente as tuas fragilidades com outras pessoas! Ja me afastei de algumas amigas por causa disso

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  2. Nunca tive um jantar de colegas de liceu, mas já tive vários de colegas de curso. Nunca houve esse tipo de eventos/comportamentos que descreves. Talvez nos do liceu haja mais lugar a "invenções"...

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    1. Estive a pensar na situação e acho que não é uma questão de sorte, mas de circunstância. Com colegas de curso, a enorme maioria está na área (no meu caso, o ensino), pelo que não há grande margem para invenções sobre "que bem me dei na vida" (nenhum professor se dá muito bem na vida!)...
      A não ser que me consideres sortuda por nunca ter tido um jantar de colegas do liceu! ;-)

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