26.9.16

porrada não vai faltar!

A guerra, se assim se pode chamar, que opõe os taxistas (ou parte deles) à Uber e Cabify conheceu um novo capítulo. Isto porque o Governo já tem pronto o decreto-lei que irá dar um enquadramento legal às empresas que parecem ser o terror dos taxistas. Mas isto não chega. Existem taxistas que nem assim ficam satisfeitos.

Para começar, os motoristas destas duas plataformas vão ter de ter formação e passa a ser obrigatório um título que os habilite a prestar o serviço. Passa também a ser obrigatório (independentemente de a plataforma já o fazer online) ter a identificação visível dentro da viatura, que passa a ter um dístico. Além disto, os carros só podem ter sete anos de “vida” (algo que não acontece com os táxis), são obrigados a ter um seguro igual ao dos táxis e a submeter-se a uma inspecção anual.

Só os taxistas é que podem circular nas vias BUS e só os taxistas é que podem apanhar passageiros que “levantem o braço” na rua. E também apenas os taxistas podem estar parqueados nas praças. Estas empresas não têm benefícios fiscais (as empresas de táxis têm) e são obrigadas a emitir automaticamente uma factura electrónica certificada (aos taxistas é exigido apenas em papel).

Florêncio Almeida, presidente da Antral, não conhece o diploma que vai legalizar estas empresas mas não tem problemas em avisar o Governo português de que “porrada não vai faltar!”. E são palavras como estas que fazem com que muitas pessoas gostem menos de uma classe. São também palavras destas que fazem com que muitas pessoas fujam a sete pés de um taxista. É aquela coisa de pagar o justo pelo pecador.

E são também palavras como estas que mostram que algumas pessoas parecem estar apenas dispostas a manter o monopólio de um serviço ao mesmo tempo que impedem que o cliente tenha opção de escolha. Sempre defendi que é o cliente que fica a ganhar com a oferta de serviços e produtos. É assim com os táxis, com os combustíveis, com a roupa, acessórios e alimentos em qualquer hipermercado, onde todas as pessoas adoram ter a opção de escolher produtos muito mais baratos do que outros, iguais, de marcas diferentes.

Olhando para aquilo que consta no decreto-lei creio que os taxistas continuam a ser protegidos em muitas coisas. As vantagens são mais do que aquelas que muitos querem fazer parecer não existir. Se está tudo perfeito? Talvez não esteja. Mas a ameaça de porrada a outros profissionais faz com que pessoas como o presidente da Antral percam a razão. Isso ou aqueles taxistas que agridem os colegas (e danificam viaturas) que preferem trabalhar em vez de fazer greve.

As pessoas necessitam de opções de escolha. Porque se é verdade que existem taxistas que são excelentes profissionais, existem outros que são desleixados, que têm viaturas com higiene que deixa a desejar, que são mal educados e que fazem o que podem para enganar clientes. E o aparecimento de outras opções fazem com que os maus profissionais vão ficando para trás ou que percebam que têm de evoluir profissionalmente para que os clientes optem por si e não pela concorrência.

Mas perceber o que é necessário para isto acontecer (e não é uma coisa do outro mundo) dá muito mais trabalho do que partir para ameaças físicas à concorrência. É o não querer ser melhor do que os outros mas apenas impedir que alguém seja melhor do que nós.

8 comentários:

  1. Mentalidades retrógradas de quem não quer acompanhar o progresso e a eficiência do que chega de novo, acham-se no direito de exigir e ter as regalias todas, no caso, o domínio do mercado de táxis.
    Que se desenvolvam, que criem uma plataforma, que muitos táxistas, que já deviam estar na reforma, vão descansar e viver o que lhes falta e dêem lugar aos mais novos, com outra visão do mercado, ou que mudem a posição e/ou se formem para competir com as novas empresas.

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    1. Muitos deles não querem evoluir. Só não querem concorrência.

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  2. Trabalhei na zona das partidas no Aeroporto e não é preciso ele prometer, eles dão mesmo, paravam os Uber, chamvam o resto da "matilha" que riscavam o carro, ofendiam o cliente (jogada muito inteligente), é o dia-a-dia deles.
    Podias acrescentar que no Uber sabes quanto custa a viagem e no táxi os logros são imensos, um policia naquela zona contou-me histórias de estrangeiros a apresentar queixa são por demais (só uma: uma cliente achou estranho passar por 2 pontes e demorar mais de 1h a fazer uma viagem até à baixa), bela viagem que o táxi deu.
    Mas não é por haver mais concorrência que o cliente fica a ganhar, isso não é uma lei universal, se eles se juntarem e decidirem regular os preço de mercado, é indiferente haver mais do que um, mas neste caso acredito que o cliente fica a ganhar.

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    1. Infelizmente esses casos começam a ser regra e não a excepção. E os taxistas deveriam ser os primeiros a pensar nos motivos pelos quais as pessoas preferem plataformas com a Uber e Cabify.

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  3. Excelente texto. Concordo com tudo o que foi aqui escrito.

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  4. Que estupidez pegada. Paga mesmo o justo pelo pecador: é por estas coisas que eu não ando de táxi.

    Jiji

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