13.9.16

e eu que pensava que este homem não conseguia ser pior...

Neste texto dei a conhecer um desabafo, modo de pensar, que um homem tinha partilhado nas redes sociais. Apesar do cargo da pessoa, entendi não divulgar o seu nome, até porque a polémica estava numa fase inicial. Agora, já é notícia em todo o lado. O autor das palavras polémicas é Joaquim Vieira, Presidente do Observatório de Imprensa. Para quem não está a par do que se passa, esta pessoa defende que os Jogos Paralímpicos são um "espectáculo grotesco, um número de circo para gáudio dos que não possuem deficiência".

Este caso cresceu e este senhor tem sido notícia em diversas publicações. Tendo vindo a público falar sobre o assunto que, segundo o próprio, já lhe valeu algumas ameaças de morte. E quando pensava que este senhor não conseguia ser pior (no seu modo de pensar e de acordo com aquilo em que acredito) eis que volto a ser surpreendido. Pois conseguiu dizer isto: "Condescendentes e paternalistas, os Jogos Paralímpicos criam nos seus participantes a ideia de que podem ser campeões (ou como os campeões) olímpicos. Não podem. Lamento desiludir muita gente, mas há só um Usain Bolt e um Michael Phelps. Não existe o Usain Bolt nem o Michael Phelps dos Paralímpicos. Por muito que alguns nos queiram convencer do contrário", defende.

Se considero que o primeiro desabafo foi meter a pata na poça, olho para estas últimas palavras como uma maratona corrida na lama. Se já estava surpreendido com o modo de pensar inicial, fico boquiaberto perante tamanha brutalidade de ideias reunidas em poucas palavras. E ideias que são facilmente desmontadas com dados, números e factos. Coisas que estão à disposição de todos e que só não são vistas por quem prefere não ver.

E até começo por Bolt e Phelps. É certo que só existem dois, um de cada. Mas não correm nem nadam sozinhos. Existem outros que desejam o seu lugar no pódio. E que querem ser melhores do que eles. Querem bater as suas marcas. Querem ser os campeões. E é para isso que trabalham diariamente. E esta ambição é tão legítima para um atleta olímpico como para um atleta paralímpico. Depois existe Lenine Cunha. Que por acaso é português. E que por acaso é atleta paralímpico. E que por acaso é o atleta mais medalhado do mundo. E aqui o paralímpico não faz falta. É mesmo o atleta mais medalhado do mundo. Será que deixa de ser um campeão (como poucos) apenas porque tem uma deficiência?

E que tal falar de Abdellatif Baka? Quem? Um atleta paralímpico argelino. Que conquistou a medalha de ouro nos 1500 metros. Este atleta ficou em primeiro na classe T13 (atletas com baixa visão) tendo corrido a distância em 3m48s29. Para quem esteve atento aos Jogos Olímpicos, os tais para campeões a sério (segundo Joaquim Vieira), perceberá que o tempo de Abdellatif Baka, recorde mundial na categoria, lhe valia uma medalha de ouro olímpica.

Quem lida de perto (ou já lidou) com pessoas com problemas, certamente poderá confirmar que aquilo que mais desejam é ser tratados como pessoas normais, tendo, melhor do que ninguém, noção das suas limitações. Eventos como os Jogos Paralímpicos podem ser um espectáculo grotesco para um número reduzido de pessoas. Mas será, na sua maioria, um exemplo de motivação e superação para tantas pessoas que têm de lutar diariamente contra a discriminação e contra os olhares de pessoas que se julgam superiores e que olham para eles como uns coitadinhos que deveriam estar fechados numa sala, escondidos do mundo, sem incomodar ninguém.

3 comentários:

  1. Grotesca foi a atitude desse ser em partilhar esse texto... Que o pense é lá com ele, publica-lo é ofensivo, e não é só ofensivo para pessoas com deficiencia, mas para qualquer pessoa que olha para uma pessoa com deficiencia como uma pessoa "normal"...
    E como dizer que deficiente é alguém com limitações e olhar para este ser como uma pessoa "normal"?
    Como já disse acima, que ele pense isso é lá com ele, que publique o que pensa, da forma que o fez, não é deficiente, é uma aberração grotesca...

    Fizesse ele como uma senhora invisual que conheci, e fosse trabalhar, e para ir trabalhar tivesse que atravessar umas quantas estradas, apanhar autocarro para de seguida apanhar o comboio e ainda o metro, para chegar ao trabalho e no final do dia fizesse o percurso inverso, e a juntar a isso tivesse filhos para cuidar (que na altura eram 2) e o fizesse tão bem como qualquer outra pessoa... Não, não era grotesca, era simplesmente admirável... Assim como qualquer atleta paralimpico (cada "macaco no seu galho")...
    ...

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    1. Tudo isto é absurdo. Tenho pena que alguém pense isto e apregoe esta ideia.

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  2. Tão válido o esforço destes atletas quanto os ditos normais.
    Há palavras que são ditas que podem ter um retorno.
    Ninguém sabe o dia de amanhã.


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