27.7.16

abdicar dos próprios sonhos para viver a vida de alguém

Está na ordem do dia o desabafo de Margarida Neuparth, mulher de Adrien Silva, jogador do Sporting. Não sei o que terá despoletado aquela situação mas Margarida critica quem acha que ser mulher de jogador de futebol "é um mar de rosas". Explica que, do seu ponto de vista, estar ao lado de um jogador de futebol consegue ser "muito difícil". E estas palavras têm dado que falar.

Começo por dizer que já conheci diversas mulheres que tinham como sonho, ou objectivo de vida, ter uma relação (idealmente casar) com um jogador de futebol. E não sou ninguém para criticar quem o deseja. É uma ambição igual a outra qualquer e cada qual tem as suas. E muitas destas pessoas eram aliciadas pelo estilo de vida fácil que os jogadores (e estou a referir-me a casos como o de Adrien) podem proporcionar devido aos altos rendimentos.

"Será que vocês estão dispostas a abdicar das vossas famílias para acompanhar a vossa nova família para qualquer parte do mundo? Será que vocês estão dispostas a abdicar dos vossos sonhos e estudos (se é que os têm) para cuidar do sonho e trabalho dos respectivos? Será que vocês querem passar horas sozinhas em países com uma língua diferente e sem um ombro amigo por perto onde desabafar? Será que vocês são fortes mentalmente o suficiente para aguentarem um barco quando ele precisa realmente de vocês como marinheiras? Será que vocês querem sentir dor mesmo quando não são vocês que estão lesionadas?", questiona Margarida.

Acho que nenhuma mulher é obrigada a aceitar isto. Se aceita é porque o deseja. Pode ser por amor. Pode ser por interesse. Pode ser por ambos. Ou por outro motivo qualquer. Mas deixar de viver para ser a sombra de outra pessoa é uma opção. Que nunca deve ser atirada à cara de ninguém como se fosse um sacrifício do qual não conseguiu escapar. Abdicar de sonhos é uma opção. E em casos como este é uma opção com uma enorme bagagem financeira, algo que não pode ser ignorado porque torna a vida muito mais fácil em determinados aspectos.

Por um lado é verdade que existe a ideia de que as mulheres dos jogadores são umas dondocas. Umas "marias chuteiras", como dizem os brasileiros. Mas também é verdade que muitas mulheres de jogadores alimentam esta imagem. E ser uma dondoca ou maria chuteira é também uma opção. Porque conheço diversas mulheres de jogadores de futebol (e estou a referir-me a atletas com ordenados muito bons) que nunca aceitaram ser uma sombra da carreira dos maridos. São mulheres que sabem que existe um preço a pagar quando se casa com alguém que hoje está aqui e que amanhã pode estar no outro canto do mundo mas são mulheres que sempre quiseram a sua independência. São mulheres que trabalham, que têm os seus negócios e que recusam, por mais aliciante que possa ser, uma vida em que nada fazem.

Compreendo o desabafo de Margarida Neuparth. Mas recuso olhar para ela, ou para outra mulher de outro jogador, como uma "coitadinha" que sacrificou os seus sonhos para ser mulher de um jogador de futebol. São opções. E cada qual escolhe aquilo que entende ser melhor para si. E concordo quando diz que ser mulher de jogador é igual a ser mulher de um homem que tenha uma profissão qualquer. Porque todos os casais têm de tomar opções para as suas vidas. Todos têm de escolher o melhor para ambos.

4 comentários:

  1. Não creio que o desabafo de Margarida Neuparth, mulher de Adrien Silva, fosse dar uma imagem de “coitadinha”, mas foi simplesmente um desabafo mal interpretado, desabafo esse muito comum a emigrantes portuguesas (eu incluída). Porque é que compreendemos e aceitamos que a integração num país estrangeiro nem sempre é fácil, mas não aceitamos quando isso vem da mulher de um futebolista?
    Viver no estrangeiro com dinheiro não significa de todo, que a nossa adaptação ou a dos nossos filhos seja fácil. Do que vale o dinheiro, se o nosso filho não quer ir para a creche porque os outros meninos não o percebem ou gozam com ele porque fala de maneira “estranha”? Do que vale o dinheiro se não conseguimos compreender o que nos dizem e somos obrigados a dar tempo ao tempo para aprender uma língua estranha? Não temos os nossos amigos ou os nossos pais ali à mão, porque estão sempre à distancia. Não é fácil.
    Existem muitas dificuldades na integração, sejamos ou não mulheres de futebolistas e por muito que sejamos independentes isso não significa que não nos sintamos sózinhas num país estranho. Julgo que ela apenas quis desmistificar a ideia de que não é “um mar de rosas” e na verdade não é. Criar novos sonhos, ser independente está na capacidade de cada um em ultrapassar este desafio.
    Julgo que independentemente do dinheiro que a pessoa X ou Y ganha é importante colocarmo-nos no lugar dela. E se fosse convosco?

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    1. Percebo tudo o que dizes mas creio que isso não se aplica a este exemplo. A carreira de Adrien foi passada em Portugal. Esteve uma época emprestado a um clube israelita e nem sei se já namoravam. Tudo o que dizes é muito válido mas depende dos casos. Depende das pessoas. Agora custa-me a ideia que "vendem" do coitadinhas, sabem lá o que passam. Ainda por cima quando destacam o "abdiquei disto e daquilo". Isso é uma opção. E que nunca deve ser uma arma de arremesso.

      Não posso olhar da mesma forma para uma pessoa que ganha dois milhões de euros por ano para um casal que emigrou porque não tinha dinheiro nem emprego em Portugal. E que vão para um país que desconhecem em busca de algo melhor e que realmente fazem sacrifícios. Ou então uma família que não sabe como meter comida na mesa para os filhos.

      Não consigo colocar tudo isto no mesmo saco. E não levo muito a sério este desabafo porque creio que tem como destinatárias as mulheres que querem ser namoradas/mulheres de jogadores de futebol.

      Para terminar, que isto dava pano para uma grande e interessante discussão, conheço uma mulher de um jogador que foi para um país que desconhecia e acabou por se adaptar, tendo frequentado um curso que concluiu sendo a melhor aluna. Isto para dizer que depende sempre das pessoas e da forma como encaram os desafios.

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  2. Infelizmente as pessoas fazem escolhas na vida mas poucas as saben assumir.
    A vida não é fácil para ninguém. Se casam com futebolistas já sabem ao wue vão. E se nao sabem,informem-se.
    Desculpe-me quem imigrou mas tb sabe ou devia saber ao que vai. Antigsmente iam as cegas. Hoje vai com cursos ou muito mais instrução.
    As pessoas têm muito a msniia de se meter nas coisaa e depois logo se vê. Não pensam,não calculam riscos. E depois são umas coitadinhas.
    Usem a cabeça para pensar,sff.
    Se esta mulher está a alertas as outras? Provavelnente. Mas soa muito a :não façam a mesma asneira que eu fiz.


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    1. Por mais que tente, especialmente neste caso, não consigo comparar os emigrantes com as mulheres dos futebolistas.

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