13.6.16

são apenas menos 50 paneleiros no mundo

Surge a notícia de que existiu um ataque em Orlando, nos Estados Unidos da América. Um louco entra numa discoteca e mata todas as pessoas que lhe aparecem pela frente. Ao todo são, se os números não me enganam, cinquenta mortos. E um número superior de feridos. Trata-se do maior massacre desde o fatídico 11 de Setembro de 2001.

Numa primeira fase existe a compaixão e solidariedade habituais nestes casos. Qualquer pessoa (pelo menos na sua maioria) ficará sensibilizada com a morte de inocentes que deixam este mundo, um a um, ao ritmo das armas de alguém que nem merece palavras. Mas isto é apenas numa primeira etapa. É que depois começa também a espalhar-se a notícia de que o massacre teve lugar num discoteca frequentada por gays. E aqui o caso muda de figura.

A ideia de que morreu meia centena de inocentes começa a desvanecer com o passar dos minutos. Nem mesmo o facto de o atirador assumir-se como radical islâmico dá mais destaque ao caso. E as pessoas já nem se importam quando o daesh reivindica o ataque. E porquê? Porque morreram apenas cinquenta paneleiros e fufas. Isto partindo do princípio que todas as pessoas eram homossexuais.

E é com tristeza que se percebe que existem ataques mais importantes do que outros. Que existem inocentes mais inocentes do que outros. Todas as pessoas ainda recordam aquele inocente que, em desespero, saltou de uma das torres no dia 11 de Setembro de 2001. Todos lamentam os quase três mil mortos que morreram naquele dia. Todos os sentem como avós, pais, irmãos, primos e por aí fora. E o mesmo se aplica às pessoas que morreram mais recentemente em Paris. Mas aparentemente estas vidas são mais importantes do que as das cinquenta vítimas deste último massacre.

E pelo simples facto de que são uma cambada de paneleiros e fufas. Algumas pessoas quase que transmitem a ideia de que o atirador até estava a trazer algum equilíbrio ao mundo. Passam a ideia de que seria pior se as vítimas fossem outras. Parece que existem diferentes grupos de inocentes. Paneleiros e fufas? Podem ir num atendado que são os menos importantes! Pessoas que gostam mais de animais do que de pessoas? Também podem ir. A compaixão dura apenas coisa de cinco minutos. Mais do que isso só para os outros inocentes. Aqueles que realmente importam porque não são homossexuais nem se preocupam mais com animais do que com determinadas pessoas.

Não se trata de um caso de homossexualidade. Trata-se da morte de Jean Perez, Eddie Justice, Edward Sotomayor Jr., Amanda Alvear e Kimberly Morris, entre tantos outros. Que apenas “ousaram” sair à noite para se divertir. E isto tanto podia ter acontecido numa discoteca gay como no bar mais hetero que possa ser imaginado. E tanto pode acabar com a vida de alguém que tem cinco euros para se divertir como de quem tem cinco mil. E tanto pode acontecer em Orlando, como em Paris ou Lisboa ou noutra cidade qualquer.

E o mais importante, mas que parece não contar para nada, é que actos destes tanto podem acabar com a vida de homossexuais como de heterossexuais. Ou de homofóbicos. Ou de pessoas que odeiam pessoas que gostam mais de animais do que de pessoas. Armas daquelas, usadas por pessoas daquelas, não escolhem ninguém. É quem aparecer à frente. Pode existir um suposto requisito inicial – como uma discoteca gay – mas isso não implica que aqueles que não estão incluídos no requisito inicial sejam poupados. Não morreram paneleiros nem fufas. Morreram inocentes num espaço de diversão. Era bom que isso não fosse esquecido.

4 comentários:

  1. vivemos num mundo estranho de gente que se entranha e nos incomoda.

    ResponderEliminar
  2. Cheguei aqui agora e já li uma data de coisas que escreveste de "enfiada" porque me deixaste completamente rendida!

    ResponderEliminar