17.5.16

ensinar aquilo que não compete

Um dos momentos mais falados da última gala dos Globos de Ouro foi protagonizado por Rodrigo Guedes de Carvalho. No momento em que foi ao palco, o jornalista disse: “e é assim caros atores que se lê um teleponto”. Estas foram as palavras que fizeram com que muitas pessoas soltassem uma sonora gargalha. E certamente também terá existido quem não tenha achado piada nenhuma. No meu caso considero ser um apontamento de humor despropositado. Algo ao género de “sou muito bom nisto, vejam lá se aprendem”.

E defendo isto porque saber ler e controlar um teleponto é uma tarefa diária de Rodrigo Guedes de Carvalho. Para quem desconhece esta prática, é o apresentador de um qualquer serviço noticioso televisivo que controla o teleponto onde lê a introdução às notícias que irá mostrar. Em condições normais também leu e aprovou os textos que não são escritos por si mas que constam no teleponto. Saber controlar o teleponto (por exemplo, sentado poderá ser com o pé) e saber ler uma notícia é uma competência de um jornalista. Não de um actor.

Enquanto jornalista, aquilo que gosto de ver num telejornal é um profissional que não “patina” no momento de dar uma notícia de última hora, sem recurso ao teleponto. Gosto que domine a situação em vez de passar muito tempo a navegar em “ahhhhh” e mais “ahhhhhh” enquanto imagina o que dizer com a informação que lhe está a ser dada. Acho que um bom jornalista sabe ler e controlar um teleponto. Dominar uma situação inesperada é que já não está ao alcance de todos.

Isto que acabei de referir faz parte da realidade diária de um jornalista como Rodrigo Guedes de Carvalho mas não faz parte das rotinas de um actor. A este é exigido que saiba dominar o texto que vai ter de dizer quando soar o “acção” sendo também imprescindível que saiba representar e não apenas debitar o texto do guião. E esta realidade não tem de andar de mãos dadas com a arte de dominar um teleponto.

E é por isso que acho que a piada não tem qualquer graça. Não é uma competência de Rodrigo Guedes de Carvalho ensinar aos actores que sobem ao palco para apresentar um prémio. Ou até pode ser, caso tenha vontade de o fazer na preparação da gala. Mas acho que fica mal gabar-se de uma coisa que faz na perfeição e que entende ser feito sem qualidade por parte dos actores. Até porque quero acreditar que nenhum actor sobe ao palco para propositadamente fazer má figura.

6 comentários:

  1. Por acaso achei um piadão, foi sarcástico mas não foi demais. Para a próxima se calhar vão tentar fazer melhor :p

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  2. Não tive essa perceção quando o ouvi a dizer a piada. Até cheguei a pensar que já estava combinado dizê-la, mas quem sabe?! Achei muito mais "ofensivas" aa "bocas" (bem certeiras) do Luís Franco Bastos, mas como é comediante já não fez tanto alarido :)

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    1. De um humorista esperamos humor mas nos dias que correm somos todos humoristas e todos resolvemos as coisas com um simples "estava a brincar" :)

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  3. :)
    Não deixas de ter razão, mas ao mesmo tempo não interpretei como um gabar-se de ele saber como se lê.
    Até porque um actor pode sentir-se nervoso a ler/apresentar como no caso dos globos de ouro.
    Fosse eu, ui! Tremia.

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