17.5.16

e se fosse consigo? ou o dia em que realmente foi comigo

O próximo E Se Fosse Consigo? aborda a violência no namoro. Retirando o namoro da equação e acrescentando uma boa dose de realismo à violência física posso dizer que infelizmente já foi comigo. Não estava a ver mas estava a ser agredido por um grupo de sete ou oito jovens que ainda hoje acredito terem ficado mais satisfeitos com as agressões do que com o roubo em si.

Isto aconteceu no Porto em 2012. Na altura, e de madrugada, estava a sair de um bar na companhia de um amigo. Vejo um grupo de jovens a caminhar na nossa direcção mas não me preocupei com nada porque não tinha motivos para recear o que quer que fosse. O primeiro que chega perto de mim diz “carteira e telemóvel” e sem que tivesse tempo para responder levei um soco, tendo conseguido desviar um pouco o rosto.

Os minutos que se seguiram – que pareceram uma eternidade – foram passados com o grupo de jovens dividido entre mim e o meu amigo sempre com agressões. Por isso é que acho que o assalto não ia saciar aqueles animais, já para não dizer que não tinha carteira. A determinado momento pensei agarrar um deles (tive essa oportunidade) e servir-lhe aquilo que nos estava a ser servido. Felizmente tive a lucidez de perceber que eles eram muitos e que provavelmente seria pior para mim, para nós, caso o tivesse feito. Como tal a minha preocupação foi tapar a cabeça, nunca cair e sair da rua o mais depressa possível para fazer barulho. Foi o que aconteceu. Quando olhei para o meu amigo (que é do Porto) tinha a cara em sangue. Isto tudo para nos roubarem um telemóvel que custava menos de vinte euros e do qual não tiraram qualquer proveito.

A reportagem fez-me recordar este momento porque a cerca de cinquenta metros do local onde começámos a ser agredidos estava um grupo de pessoas que estavam a entrar ou sair do bar onde estava. Estava também à porta o porteiro do bar. E nenhuma daquelas pessoas veio em nosso auxílio. Tal como no final ninguém veio perguntar se estava tudo ok. Se censuro alguma daquelas pessoas? Não! Sou incapaz de o fazer. Porque entendo que poucas pessoas teriam coragem de enfrentar um grupo de jovens que está a espancar duas pessoas. Mais depressa imagino aquelas pessoas a fugirem do que alguém a tentar ser o herói do dia.

Voltando ao tema da reportagem, acho bem que as pessoas se metam quando existe violência entre um casal. Mas acho também que o problema não está só aí. É bom que as pessoas vítimas de violência sejam as primeiras a ajudar-se. E tenho um exemplo muito próximo de uma mulher que era agredida pelo marido – os meus pais chegaram a ir com a pessoa ao hospital – e voltava sempre para ele. Aliás, ainda hoje estão juntos. E muitas destas pessoas são ajudadas e ainda reagem mal em relação a quem ajuda.

Mas tiro o meu chapéu a todas as pessoas que têm coragem de enfrentar casos complicados que envolvem outras pessoas. Como foi o caso de Catarina Martins, a líder do Bloco de Esquerda, que aparece neste episódio a intrometer-se numa discussão de um casal. Deu o exemplo. Só lhe fica bem. E todos temos a aprender com isso. Por outro lado, é muito fácil criticar quem nada faz. Aliás, este tipo de reportagens gera ondas de comentários do estilo super-herói (“eu fazia e acontecia”) mas volto a dizer que não sou capaz de censurar as pessoas que assistiram a minha agressão e nada fizeram. E a verdade é que a maioria das pessoas nada fazem.

Por fim, e porque isto já vai longo, recordo-me também de uma noite em que uma ex-namorada fez uma cena de ciúmes (completamente injustificada) e começa aos gritos dentro de um espaço onde estava também a minha irmã. Recordo-me dos gritos e de ameaças ao estilo de “larga-me que vou-me matar”, algo com que lidei quando era muito novo. Tentei acalmá-la enquanto consegui e durante este tempo os gritos eram em público. E aqui é curioso que para todas as pessoas que olhavam eu era o mau da fita. Eu era o “agressor”. Isto já foi há muitos anos mas acredito que numa situação semelhante aquela que vivi, a grande maioria das pessoas olhe para o homem como o mau, mesmo que seja a vítima.

6 comentários:

  1. Lembro-me de ler este teu post, e já foi em 2012?
    Eu acho que a violência também está nas mulheres e há homens que nada fazem com receio.
    É mais notório homem que agride a mulher, ma o contrário existe, sim.
    Não tenho falhado nenhum programa, porque acho que é um despertar de sensibilidades para toda a sociedade, que muitas vezes diz que não faz, mas faz.

    Beijinho

    ResponderEliminar
  2. Começando pelo fim: "(...) a grande maioria das pessoas olhe para o homem como o mau, mesmo que seja a vítima."
    Isto, meu caro, é muito culpa vossa. Quantos homens têm coragem de dizer que são maltrados, física ou psicologicamente? Pudor, vergonha, sentirem-se diminuídos na vossa masculinidade? Porquê isso? Lembro-me do drama de um homem a quem foi negado ver o filho - um caso muito noticiado, não sei se tomaste conhecimento - que encheu o muro protector de um viaduto, isto em Lisboa, com chuchas e balões em sinal de protesto. A luta deste homem arrastou-se anos mas, lá está, é homem é culpado, ponto. Tenho, e desde sempre, procurado não endeusar uns nem diabolizar outros. Há casos e casos, é facto, mas raramente as coisas são assim tão lineares.
    A questão que abordas primeiro. É, é isso, todos somos heróis quando a nossa integridade não é ameaçada, como no caso do ataque de que foram vítimas. O lamentável é que mesmo que não seja esse o caso as pessoas raramente saem em defesa da/s pessoa/s que está a ser agredida no seu direito à diferença, seja ela qual for: homossexualidade, racismo, etc., etc.
    Queres outro exemplo? Vês alguém com todo o aspecto de que está embriegado caído caído na rua. Quantos se chegam para o ajudar a levantar? Zero! Tudo o que tens é um ou outro que lhe toca com o pé para ver se está vivo. Assisti a isto já há bastante tempo mas recordo como se tivesse sido hoje.
    Em síntese, o que temos é uma sociedade profundamente egoísta, desumanizada, com valores diminutos - se é que ainda têm alguns - logo, o resultado só pode ser este: nada fazer para que nos aconteça.
    Lamentável, mas é assim.

    Abraço.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tens razão no que dizes mas refiro-me a uma cena de ciúmes com público. Naquele momento as pessoas olhavam de lado para mim quando só a tentava acalmar. Não lhe tinha feito nada. Só estava preocupado com ela.

      Abraço

      Eliminar
  3. Claro, mas como tens o "azar" de ser homem a razão só podia estar do outro lado. Gente pequenina, ou gente estúpida? Que responda quem souber.

    Abraço

    ResponderEliminar