11.3.16

um fenómeno estranho mas comum

Existe aquilo que considero ser um um fenómeno estranho mas comum. Bastante comum. E que me toca mais porque diz respeito à minha área e ao meu "ganha pão". Estou a falar dos jornais e revistas que são lidos dentro das grandes superfícies. Por exemplo, hoje almocei dentro do Continente enquanto fazia compras. Como estava sozinho fui buscar o jornal Record para ler enquanto comia uma tosta mista.

Durante este processo reparei que existiam muitas publicações abandonadas nas mesas. Reparei também em pessoas que conseguem ir buscar todos os jornais ou todas as revistas para estarem entretidos enquanto se alimentam. Sendo que nenhuma destas pessoas tem a intenção de comprar a publicação que lê. E as grandes superfícies sabem isso. Sabem que aquilo entretém as pessoas enquanto fazem compras - por exemplo, enquanto o marido lê os jornais não aborrece a mulher que está a fazer as compras - ou enquanto se alimentam. Basicamente, enquanto gastam dinheiro noutras coisas. E por isso não se importam que os jornais e revistas andem para ali sem ser vendidos, até porque depois são devolvidos.

Quando acabei de ler também podia deixar o jornal em cima da mesa. Sei que ninguém olharia para mim de lado nem ninguém me iria questionar sobre o abandono da publicação. Em vez disso guardei o jornal no carrinho de compras e paguei o mesmo. Aquilo que fiz deveria ser feito por todas as pessoas que pegam num jornal ou revista para ler. E talvez isto me toque mais de perto por ser jornalista. As pessoas podem pensar que o Continente (ou outra superfície comercial qualquer) não se importa com esse acto e que não perde dinheiro com isso. Isso é capaz de ser verdade. Mas a publicação vende menos alguns exemplares. Que saltam de mão em mão até ao abandono. E exemplares que em vez de estarem ali ao abandono, acabando devolvidos, podiam estar em meios mais pequenos, pontos de venda que recebem poucas unidades, onde chegam meia dúzia de jornais ou revistas.

E, sobretudo nos dias que correm, é uma fatia "importante" de dinheiro que não entra na publicação que fez aquele jornal ou revista. E que tem menos lucros. E que tem de fazer cortes. E que tem de despedir jornalistas porque vendem-se menos publicações. É um efeito bola de neve. É um problema muito maior do que esta pequena parte. Mas esta pequena parte não deixa de ser um problema. E basta que quem lê publicações sem pagar as mesmas se coloque no lugar dos jornalistas e das publicações que gostam de ler sem pagar.

Vamos imaginar que quem faz isto vende maquilhagem. Será que essa pessoa gostava que as pessoas entrassem na sua loja, usassem os produtos para se maquilhar e não pagassem os mesmos? Ou será quem tem um cinema, uso este exemplo para ser mais fácil, gostava que as pessoas vissem o filme sem pagar? E isto aplica-se a qualquer negócio. Basta imaginar um cliente a usufruir de um produto sem pagar o mesmo. Ninguém gostava pois não? Mas é isso que fazem quando estão a ler um jornal ou revista desde a primeira até à última letra sem ter intenção de pagar a publicação.

16 comentários:

  1. tens toda a razão! no outro dia fui à fnac e vi um monte de pessoas la sentadas a ler livros e jornais e pensei o mesmo. nao gosto de fazer isso e nao gosto que os outros façam. acho uma falta de respeito pelo o trabalho dos outros.

    beijinho
    http://the-not-so-girlygirl.blogspot.pt/

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    1. Parece que não mas é algo que ainda mexe com muito dinheiro.

      Beijos

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    2. A fnac tem um espaço de leitura em que as pessoas se podem sentar, sem culpa, e ler um livro. Nem toda a gente pode pagar um livro, isso significa que não o possa ler? As bibliotecas deviam acabar? Estamos a ser muito preciosos, muito mesmo, e isso é triste. Esses espaços existem para incentivar a compra e muitas pessoas acabam por comprar o livro ou a revista. As que não podem.. ainda bem que puderam passar um bom bocado sem serem criticadas por não terem dinheiro.

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    3. Estamos a misturar conceitos. Uma biblioteca em nada se compara com um espaço comercial onde se vendem publicações. Era o mesmo que ir para uma papelaria ler tudo sem comprar nada. E muitas papelarias já têm a indicação de que a consulta de um jornal obriga à compra do mesmo.

      Acho bem que se incentive à leitura. Mas existem limites. Até porque ninguém irá comprar um jornal/livro já "usado" com páginas dobradas e amachucadas.

      Pode parecer que isto é ser de extremos mas se estivesses na minha posição ias perceber isso porque isto é algo que mexe com dinheiro que não chega à minha empresa. Dinheiro esse que serve para pagar os ordenados da minha redacção, por exemplo.

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  2. Para mim o grande culpado é o hipermercado, que permite a situação, pois se eu estiver a consumir um alimento que tire da prateleira, vou ter de o pagar, outra solução pouco amiga do ambiente, é a publicação estar fechada num saco plástico transparente, como já vi em algumas revistas.

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  3. Infelizmente isso é prática corrente. Um dia assisti no Continente da minha zona, que tem logo na entrada as revistas exposta, a um aviso da empregada porque estavam várias pessoas a ler revistas ali e condicionavam a entrada para quem ia às compras. Acredito que se as levassem para uma mesa, ninguém lhes diria nada.
    Um abraço e bom fim de semana

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    1. Eu vejo pessoas com quatro ou mais revistas debaixo do braço.

      Abraço e boa semana.

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  4. Eu entenso-o,mas a culpa tb é do Continente pq permite essa situação e não devia.
    A desculpa das pessoas será: com a crise,tudo o que não puder pagar,melhor...
    Valores....o que são?

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    1. Eles são culpados porque facilitam o acesso mas fazem isso porque o objectivo é outro, passa por ter os clientes ocupados.

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  5. O problema é que em Portugal toda a gente quer as coisas de borla. Também não gosto disso. Se uso, compro. Já em relação à maquilhagem, muitas vezes vou às lojas e se tiverem a possibilidade de experimentar óptimo. Experimento e, se no final gostar, compro.

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    1. Dei o exemplo da maquilhagem como podia dar muitos outros. Nesse caso era todas as pessoas irem às lojas maquilhar-se e nunca pagar os produtos.

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  6. Bom dia :)
    Percebo perfeitamente o que dizes, sou advogada e geralmente os meus amigos e conhecidos e conhecidos de amigos ligam para "fazer uma perguntinha", já assumindo que não é para pagar, porque afinal de contas não passa de uma pergunta ou de uma papel.Mas a verdade, é que nós nos formamos, investimos, estudamos , gastamos tempo e no final esse trabalho não é recompensado. Tal como o do jornalista, se a o jornal/revista não é comprado. Quase que arrisco dizer que há desvalorização profissional.
    Outra coisa que vejo frequentemente no supermercado e que me choca profundamente, é o consumir ali mesmo e não pagar. As pessoas pegam num iogurte, bebem, prosseguem nas suas compras e no final, não pagam. Pior, fazem isso em frente aos filhos, ou muitas vezes dão aos filhos para consumir. Que m**** de exemplo que estão a dar.
    Talvez tenha extrapolado do tema...mas para mim, há aqui um padrão de personalidade, em todos os exemplos.

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    1. É o que temos. E compreendo bem o teu caso. Em tempos tive de ir conversar com uma advogada. Era um grupo de pessoas muito grande e fui uma das pessoas que foi falar com a advogada. Existia um conjunto de perguntas que eram importantes para todos e que foram estabelecidas previamente. Mas depois todas as pessoas começam a querer perguntas individuais e neste caso com a justificação de que estão a pagar. Mas esquecem-se de que foi um grupo enorme que pagou e que se todos fossem fazer perguntas individuais eram necessárias dezenas de consultas.

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  7. Nunca fiz isso de que falas no post. Jornais não folheio, sequer, mas se pegar num livro, ler umas páginas e gostar, claro que o compro, a seguir. Em relação ao supermercado e a consumir sem pagar, nunca testemunhei o que a anónima das 10:48 contou e ainda bem, porque não sei se ficaria calada... Já me aconteceu pegar numa embalagem de chocolates, ou barras de cereais, abrir, comer algumas e, na caixa, o funcionário avisar: "O pacote não está inteiro..." e eu: "Eu sei, obrigada, fui eu que não consegui resistir!" Seria incapaz de comer e não pagar! :-)

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