2.2.16

figuras públicas, invasão de privacidade e a maldita imprensa cor-de-rosa

Acho especial piada, não evito mesmo começar a rir, quando ouço uma figura pública criticar a invasão de privacidade, algo que é feito, na opinião destas pessoas, pela maldita imprensa cor-de-rosa. Antes de dar continuidade a este texto, e sendo jornalista, nada tenho contra as pessoas, neste caso figuras públicas, que defendem que existem jornalistas que invadem a sua vida privada. É uma opinião tão válida como outra qualquer. E também enquanto jornalista acho especial piada quando dizem que o jornalismo da área social é cor-de-rosa. Isto porque não existe cor para mais nenhum.

Regressando ao motivo deste texto, referi que me dá vontade que determinadas figuras públicas critiquem a invasão de privacidade que é feita pela maldita imprensa cor-de-rosa. E o que me dá vontade de rir é a falta de coerência e de bom senso de algumas pessoas. Porque algumas pessoas que fazem esta crítica estão dispostas a abrir as portas da sua privacidade desde que, e vou dar apenas alguns exemplos, recebam em troca uma viagem a determinado destino, gadgets de última geração ou roupas e brinquedos para os seus filhos. Em alguns casos chega mesmo a existir um “aliciamento” aos malditos jornalistas da maldita imprensa cor-de-rosa.

Ou seja, não existe invasão de privacidade. Aquilo que existe é um preço a pagar para que a invasão de privacidade seja na verdade uma cortesia de determinada figura pública que, faz de conta, num determinado dia acordou bem-disposta e com vontade de abrir as portas da sua vida íntima. Só que, infelizmente, esta realidade passa despercebida a 99% dos leitores de jornais, revistas e sites. E é pena que as pessoas não tenham conhecimento deste funcionamento. Talvez assim percebessem tantas coisas que vão passando entre as gotas da chuva.

Agora, se o maldito jornalista da maldita imprensa cor-de-rosa escreve uma notícia para dar a conhecer que determinada figura pública deve dinheiro a x pessoas, que vive com base em determinados esquemas, que agrediu este ou aquele e que fez isto ou aquilo, aqui o caso muda de figura. Aqui a imprensa cor-de-rosa é mesmo maldita e é uma vergonha porque está sempre a meter-se na vida deste e daquele. Mas se oferecer algo em troca tudo está bem e não há invasão nenhuma. Entre tantas outras coisas.

Existe uma frase que é atribuída a George Orwell e que diz qualquer coisa como: “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. O resto é publicidade”. E acrescento mais uma, esta de Gustave Le Bon. "Muitas pessoas são dotadas de razão, muito poucas de bom senso".

6 comentários:

  1. É um bocadinho ingénuo achar que há jornalistas / fotógrafos que não invadem a vida de figuras públicas. E só por - vou dar um exemplo que não existe para ser mais fácil de escrever - uma atriz decide dar uma vez uma entrevista, deixar-se ser fotografada para um evento ou até fazer aquelas coisas como "vejam como é o meu dia", não significa que os jornalistas tenham direito a invadir a vida privada desta pessoa. Não significa que um jornalista possa fotografar os filhos dela por exemplo, ou através de uma janela capturar um momento íntimo entre a atriz e um homem.
    Quando se fala de um jornalista descobrir uma verdade sobre uma pessoa ou um grupo de pessoas, é "newsworthy" quando influência o mundo. Dou o exemplo do caso Spotlight do qual há um filme bem recente. Agora fotografar uma atriz em topless, quando esta não quer ser fotografada... Sim, é invasão da privacidade, roça no assédio.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O primeiro ponto de discussão é algo que muitas pessoas desconhecem: o que é uma figura pública? Quais os seus direitos? E qual a barreira que significa a entrada na privacidade.

      Dás o exemplo da praia ou o exemplo de um momento íntimo entre mulher e homem. Se forem num local público não existe intromissão na vida privada. E isto é algo de lei. Eu, enquanto anónimo, posso impedir que me fotografem. Uma figura pública não! Podemos discordar disto mas é a lei. Quanto aos filhos é diferente. Qualquer menor só aparece com a cara a descoberto nas fotos com a autorização dos pais. Mais uma vez, existem detalhes na lei para as figuras públicas menores. Por exemplo, Mourinho ganha a Liga dos Campeões e festeja com os filhos (menores) em pleno relvado. As fotos em que os filhos aparecem podem ser utilizadas sem qualquer problema.

      Existem diferentes tipos de jornalismo e diferentes interesses, haverá quem queria saber se o jogador x usa droga, haverá quem queira saber o que se passa nos bastidores da política e haverá quem queira ver a celulite da apresentadora y na praia. O jornalismo, ou o seu público, é diferente. Mas as regras são iguais para todos. Todos os jornalista seguem o mesmo código.

      Eliminar
    2. Podemos falar de leis e achar que fazemos tudo bem de acordo com ela. Mas há mais uma coisa, que é a ética. E eu acho que tirar fotografias de celebridades em momentos claramente íntimos (mesmo que seja num local público) não é ético ponto. É uma invasão.

      E pronto, pode achar que há vários tipos de jornalismo. Eu acho que há jornalismo e depois há merda (sim, o "jornalismo" cor-de-rosa).

      Eliminar
    3. Achares que é uma merda é tão válido como achares que é bom. Mas as "" estão a mais porque não deixa de ser jornalismo sem aspas apenas porque consideras que é uma merda. Existem bons e maus jornalistas em todos os segmentos do jornalismo e não é por isso que deixa de ser jornalismo.

      Por fim, recordo o motivo do texto. Figuras públicas que criticam o jornalismo social mas que se vendem ao mesmo quando ganham algo em troca.

      Eliminar
  2. Tenho que concordar com o anónimo aqui de cima - acho que é mesmo uma questão de ética. Mas há assuntos e assuntos, claro. A perseguição de pessoas na sua vida privada, só porque são conhecidas por x ou y, não é ética se não for autorizada pelo próprio. É óbvio que investigações noutros campos, são bem diferentes. Mas qual é o interesse para a sociedade saber que a pessoa x está de férias no lugar y ou que está com a pessoa z ou que engordou 10 kg?...Por isso entendo as críticas à imprensa cor de rosa.

    Jiji

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Se o jornalismo fosse feito de coisas autorizadas pelos próprios não passaria de publicidade. O que existe é diferentes segmentos do jornalismo, tal como existem diferentes segmentos de programas de televisão. E cada pessoa é livre de fazer a sua escolha.

      Dizes que ninguém tem interesse (aliás todas as pessoas dizem que só olham para as revistas do social quando vão ao dentista) mas como se explica então que se vendam tantas e tantas revistas em Portugal? Quem as compra se ninguém as lê? :)

      Eu aceito perfeitamente as críticas. São totalmente compreensíveis. Acho é que muitas pessoas fazem críticas sem perceber minimamente o que estão a referir. E isso faz toda a diferença.

      Eliminar