17.1.16

ainda a procissão vai no adro

29 de Abril de 2013. O Benfica vence, por 2-1, o Marítimo no Estádio dos Barreiros, no Funchal, numa deslocação sempre complicada. A vitória fez com que o Benfica mantivesse a vantagem de quatro pontos para o Porto quando ficavam a faltar disputar apenas três jornadas. Faltava receber o Estoril, a deslocação ao Dragão para defrontar o Porto, e mais um jogo em casa. O Benfica acabou por empatar em casa com o Estoril, perdendo depois no Dragão, oferecendo assim o campeonato ao Porto, no famoso jogo em que Jorge Jesus se ajoelhou.

Festejei quando o Benfica ganhou aquele jogo na Madeira. Ficavam a faltar apenas três jogos, dois deles em casa e com adversários teoricamente acessíveis. Acreditei que o campeonato já não fugia ao Benfica. Mas aquilo que parecia fácil tornou-se complicado e o campeonato foi para outro clube. Recordo-me de que, nessa altura, os benfiquistas foram "gozados" por festejar antes do tempo. Volto a recordar que depois do jogo da Madeira ficavam a faltar três jogos e a vantagem era de quatro pontos. Foram piadas atrás de piadas. Gozo atrás de gozo. "É para aprenderem", disseram muitos portistas e muitos sportinguistas.

O tempo foi passando até que Jorge Jesus foi, esta época, para o Sporting. "Já ganhámos o campeonato", ouvi muitos sportinguistas dizerem quando ainda nem se tinha disputado a primeira jornada. O campeonato foi avançando e o Benfica deixou de ser, para muitas pessoas, candidato ao título, sobretudo quando esteve a oito e sete pontos de distância do líder do campeonato, o Sporting. Entre isto tudo disputaram-se três jogos entre o Benfica e o Sporting, com o Benfica a perder o três mas com apenas um desses jogos a dar direito à conquista de um troféu. Nestes três momentos assisti a festejos como se a época tivesse acabado. "O campeão voltou", ouvi em diversas ocasiões.

O Sporting foi ganhando jogos. E comecei a ouvir sportinguistas fazerem contas ao campeonato. "Ganhamos ao Benfica, aumentamos a vantagem pontual e isto está feito", ouvi. "O campeão voltou", voltei a ouvir. Até buzinadelas ouvi depois da vitória sobre o Braga. Ouvi também diversos comentadores dizerem que o Sporting tinha o campeonato facilitado devido ao calendário. E cada vez mais fui ouvindo sportinguistas, aqueles que acusavam os benfiquistas de festejar cedo demais a três jornadas do fim, festejar a conquista do campeonato quando ainda nem metade dele estava disputado. Reforço que ainda nem metade do campeonato se tinha disputado. Ou seja havia, mais coisa menos coisa, 51 pontos em disputa.

Até que, na primeira jornada da segunda volta do campeonato, o Benfica fica a depender apenas de si próprio para ser campeão. E com o Sporting a perder cinco pontos para os últimos classificados do campeonato. Isto tudo para dizer que a procissão ainda vai no adro. Ainda existem quase cinquenta pontos em disputa. E tanto o Benfica como o Sporting ou o Porto podem ser campeões e neste momento ninguém pode garantir que o campeão será x, y ou z. E isto tudo para dizer que aqueles que acusavam (e bem) os benfiquistas de festejar excessivamente a três jornadas do fim cometeram esse erro quando faltava de jogar mais de metade do campeonato.

Começando pelo Sporting. Não sei se será campeão ou não. Mas tendo tido Jorge Jesus enquanto treinador do meu clube durante seis épocas não me surpreende esta perda de pontos nesta altura do ano. Tal como não me surpreende que o clube quebre neste momento. É comum nas suas equipas. E os campeonatos ao serviço do Benfica provam isso mesmo. Por outro lado, Jorge Jesus, apesar dos seus defeitos, é o ponto mais forte do Sporting neste momento. Sabe mais de futebol a dormir do que a estrutura do Sporting toda junta e acordada. Até Jorge Jesus já assumiu publicamente que o clube necessita de uma estrutura "profissionalizada" tal como já existe no Benfica e no Porto. Jorge Jesus é o ponto forte do Sporting mas não sei se isso chega para tudo. Só o tempo o dirá.

Quanto ao Porto. Ao longo de duas épocas vi algo que nunca tinha visto no Porto que foi um treinador a mandar como nenhum outro mandou. Já partilhei a opinião de que o Porto tem um grande plantel (precisa de um central de qualidade e de um bom avançado - não sei se Suk é esse homem) sem um grande treinador. Se Jorge Jesus é o ponto forte do Sporting, Lopetegui sempre foi o ponto fraco do Sporting. O Porto com um grande treinador tem tudo para ser um dos mais fortes candidatos ao título. Acrescento apenas que no início da época defendi que Casillas não acrescenta nada ao Porto do ponto de vista desportivo. Volto a dizer o mesmo. Helton fazia igual ou melhor do que Casillas. Esta contratação só tem lógica do ponto de vista mediático.

Por fim, o Benfica. O patinho feio deste campeonato. O Benfica, para muitas pessoas, nunca foi candidato ao título. Porque com miúdos não se ganha. Porque o plantel é velho. Porque os jogadores não têm qualidade. Porque o treinador não presta. Porque o cérebro se foi embora. Por isto e por aquilo. Não posso comparar Rui Vitória com Jorge Jesus porque o último teve todos os jogadores que pediu e porque o mais recente ficou com um orçamento mais apertado. E isto torna complicada a comparação. Mas não deixa de ser curioso que o Benfica de Rui Vitória esteja praticamente igual ao de Jorge Jesus no seu primeiro ano de Benfica. Os mesmos pontos. O mesmo lugar na tabela e a mesma distância para o líder. Mais ou menos os mesmos golos marcados e sofridos. E isto, como se isto fosse necessário, faz do Benfica um legítimo candidato ao título. Tal como Sporting e Porto.

Resumindo e concluindo, a procissão ainda vai no adro. O campeonato português, estando longe de ser dos melhores da Europa, consegue ser imprevisível. Hoje ganha-se, amanhã empata-se e também se perde em alguns dias menos bons. De resto, basta que todos apliquem aquela máxima do "aprendam a não festejar cedo demais". Festeja-se na altura certa. E essa está muito longe para qualquer adepto dos três maiores clubes portugueses.

5 comentários:

  1. Estou demasiado triste para falar de bola hoje...Só te digo que o que me preocupa mesmo é estarem a roubar a alma do meu Porto. Eu não conheço esta equipa, nem esta maneira de jogar de lado nenhum. Cada jogador ( e treinador já agora) que chega ao Porto tem de perceber desde logo que em campo, nas Antas, no Dragão, não joga só uma equipa de futebol, joga um povo, que está no jogo como na vida, habituados a lutar e a conquistas difíceis, que às gentes do sul são oferecidas de mão beijada. A dar luta e que mesmo quando perde, perde de pé e de cabeça erguida! Quero muito o meu Porto de volta, mas para isso há muita coisa a precisar de mudar...e não é só a equipa, nem o treinador...

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    1. Confesso que fiquei surpreendido com a escolha. O Porto está diferente do clube que descreves.

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  2. olha eu estou igual....uma tristeza que até dói!durante 34 anos como portista,devota claro,e depois de ver o meu FCP ser campeão algumas 28 vezes(mais coisa menos coisa)uma pessoa anda de coração partido....só não entendo como há gente na casa dos 30(leia-se 34)que não são portistas,não entendo.;))

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