28.12.15

ó flor, dá pra pôr?

Nunca fui de usar piropos. Coisas como “ó flor, dá pra pôr?”, “ó borracho, queres por cima ou queres por baixo?”, “ó estrela, queres cometa?” são frases que não fazem parte do meu vocabulário. Tal como não constam em nenhum “manual de sedução” masculino. Só recorro a este tipo de palavreado num círculo muito restrito de amigos. E sempre em jeito de brincadeira uns com os outros e nunca como ferramenta de sedução. Até porque quero acreditar que este tipo de frases feitas não seduzem ninguém.

Poucas pessoas se aperceberam, até porque só agora foi notícia, mas este tipo de piropos, vistos como “propostas de teor sexual” têm, desde Agosto, relevância criminal podendo resultar numa pena de prisão até um ano, ou três em caso das vítimas serem menores de 14 anos. Trata-se de um aditamento ao artigo 170º do Código Penal que já criminalizada o exibicionismo e os contactos de natureza sexual, ou seja, os apalpões.

Enquanto pessoa congratulo-me com esta medida. Como em tudo na vida haverá que aprecie ser alvo de piropos (e já vi muitos casos de pessoas que se gabam de ter sido alvo de comentários semelhantes aqueles com que comecei este texto) pois vê nos mesmos algo semelhante a uma massagem ao ego, traduzindo aquelas palavras, que a generalidade das pessoas vê como sujas, por uma mensagem ao estilo de “sou irresistível”. E ainda usam isso para dizer algo como “meteram-se comigo e contigo não”. E haverá quem deteste ser alvo deste tipo de assédio. A generalidade das pessoas, creio.

Por outro lado, acho que existe uma tradição masculina no que aos piropos diz respeito. Acredito que caso se peça a alguém uma primeira memória associada aos piropos será mencionado um homem das obras que assedia qualquer mulher, sem distinção, que passe junto da obra onde trabalha. Esta será a primeira imagem. Mas considero errado pensar que se trata de um problema exclusivamente masculino. Porque existem mulheres que conseguem ser muito piores do que os famosos “homens das obras”. Mas este comportamento é analisado de forma diferente.

Usando um bom exemplo vindo do cinema, é mais ou menos como no filme Chefes Intragáveis em que três amigos combinam matar os chefes. A determinado momento debatem os motivos pelos quais não podem com os patrões. E um deles diz que a chefe está constantemente a assedia-lo sexualmente. Os outros dois amigos gabam a chefe do amigo e ainda gozam com ele por quererem estar no lugar dele e ter relações sexuais com ela. Este exemplo mostra bem como é visto o assédio feito por elas. É quase uma “piada” e “mariquinhas” o homem que tem medo de algo assim. E podia dar outros exemplos dentro deste género que levam a que os homens ainda tenham vergonha de abordar o tema.

Espero que esta medida ajude a colocar um ponto final em determinadas situações como é o caso, e isto acontecia quando andava no secundário, de pessoas que dizem coisas completamente absurdas a adolescentes perto de escolas.

14 comentários:

  1. Concordo contigo, também me incluo no grupo de pessoas que não acham piada e que concordam totalmente com esta nova lei.

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    1. Que sirva para algo mas coloco no mesmo patamar dos maus tratos aos animais, ou seja, a lei existe mas "ninguém" a põe em prática.

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  2. Trabalho nas obras vai para 15 anos e ou é um grande mito urbano ou já é coisa dum passado. pois foi rara a vez que assisti a um comentário, um assobio ou uma cantilena (Xutos ou música brasileira).
    Considero que antigamente ou num pós 25 de Abril deveria ser corriqueiro, mas foi caindo em desuso. Entre homens sim, pode haver comentários, mas não me parece único às obras.

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    1. Recordo-me de ouvir no secundário quando um prédio estava em obras perto da escola. De resto já vi de tudo e em ambos os sexos. Acho que rapidamente se associa o piropo aos homens mas a verdade é que funciona para ambos os sexos.

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  3. "Por outro lado, acho que existe uma tradição masculina no que aos piropos diz respeito. Acredito que caso se peça a alguém uma primeira memória associada aos piropos será mencionado um homem das obras que assedia qualquer mulher, sem distinção, que passe junto da obra onde trabalha. Esta será a primeira imagem. Mas considero errado pensar que se trata de um problema exclusivamente masculino. Porque existem mulheres que conseguem ser muito piores do que os famosos “homens das obras”. Mas este comportamento é analisado de forma diferente."

    É natural que seja analisado de forma diferente. O problema do piropo, além de ser nojento, é que intimida uma mulher. Os homens são, na sua maioria, mais fortes e maiores do que uma mulher. Se está um bando deles a mandar bocas a uma mulher sozinha na rua, ela vai-se sentir intimidada e com medo. E nenhuma mulher se devia sentir assim na rua, o espaço público é tão das mulheres como dos homens.
    Posto isto a lei funciona para os dois lados, comentários de teor sexual, assédio sexual é crime tanto para homens como para mulheres.

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    1. Mas já pensaste que pode intimidar um homem mas que esse homem poderá ter "vergonha" de revelar a situação? Pelos motivos que explicas pois poderá deixar de ser visto como "forte". E acho que são detalhes como este que fazem com que a mesma situação seja analisada com dois olhares.

      Dizes que nenhuma mulher se deve sentir assim na rua. Assino por baixo e acrescento que nenhuma pessoa se deve sentir assim. E que isto sirva para mudar algo.

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    2. Eu não digo o contrário, mas deixe-me que lhe diga que quem sofre mais com esta porcaria dos piropos (eu chamo-lhe assédio sexual) são as mulheres. Claro que pode haver casos de homens que sofram também, mas desconheço um homem que se sinta inseguro e tenha medo de sair à rua por uma mulher lhe dizer algo de teor sexual.
      Eu sou mulher e na rua onde vivia houve uma altura em que todos os dias era abordada por um homem que me dizia coisas absolutamente nojentas. Não queria sair, tinha medo e sentia-me insegura. Na minha rua! Ah e era menor de idade.
      Por muito que queiramos acreditar a nossa sociedade ainda não é igual para todos. As mulheres ainda não são iguais aos homens.
      Mas digo-lhe uma coisa, esta lei protege tanto as mulheres como os homens. O problema de uma sociedade machista é que não é boa para ninguém... Os homens também sofrem se não se comportarem como machos latinos.
      Mas também não vamos fingir que as maiores vítimas dos piropos não são as mulheres... porque são.

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    3. Sou o primeiro a dizer que acredito que a maior parte dos casos acontece com mulheres. Só defendo que não é algo exclusivamente feito por eles e que a forma como as coisas acontecem são vistas com olhos diferentes. Provavelmente pela imagem que estás a explicar de que o homem é visto como mais forte.

      Muito sinceramente espero que isto mude as coisas para que muitas menores não tenham de passar por aquilo que passaste pois ninguém deve viver com esse receio de sair de casa.

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  4. E como se prova? o fulano manda o piropo e ponho-me a correr atrás dele e arrasto-o ao posto mais próximo? São só palavras...

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    1. Uma coisa é o típico piropo. Outra são coisas mais porcas e menos simpáticas. O grande problema está aí, em colocar isto em prática.

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    2. Mudei de opinião depois de ter escrito e escrevi no meu blog isto que afinal, não são só palavras... http://mundopinkpoison.blogspot.pt/2015/12/dos-piropos-e-afinal-ja-me-tocou-e-nao.html

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    3. Lá está, existem piropos e coisas indecentes.

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  5. Para mim era o governo a tentar angariar trolhas para arranjar as prisões que estam a precisar de obras... ; )

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