9.6.15

o meu lado b #1

Quem me conhece sabe que o desporto, especialmente o futebol, é a minha grande paixão e a minha área de interesse. Até consigo divertir os meus amigos quando, no Algarve e com a noite já a meio reconheço jogadores que mais ninguém reconhece. Apesar de gostar muito de futebol, poucas são as vezes em que foi tema de um texto (refiro-me algo mais específico). Nos últimos dias ponderei criar um blogue para esse efeito mas optei por escrever, quando me apetecer, neste espaço. Um outro blogue ia consumir mais tempo e implicaria uma logística diferente no momento de publicar um texto e na atenção dedicada ao mesmo. Assim sendo, nasce hoje a rubrica “o meu lado b”. O b poderia ser de Bruno, o meu nome, mas neste caso é mesmo de bola.

E nada melhor para inaugurar esta rubrica do que um escaldante derby que opõe os dois maiores clubes de Lisboa: Benfica e Sporting. Trata-se de um derby de formação, tema muito badalado (chega a ser confuso) depois da mudança de Jorge Jesus do Benfica para o Sporting, da assumida aposta benfiquista na formação (um dos motivos que afastou Jorge Jesus que não estava muito inclinado para este projecto) e da incógnita em relação ao futuro aproveitamento da formação leonina que bons frutos tem dado ao longo dos anos.

Para começar é de certo modo injusto, ou pouco preciso, defender que o Sporting faz da formação a sua bandeira, ao contrário do que acontece com o Benfica e também com o Porto. Considero que é impreciso porque é preciso juntar a componente financeira a este tema. O Sporting passou a apostar na formação pelo simples facto de que não tinha dinheiro para comprar jogadores feitos e de qualidade indiscutível, como por exemplo Salvio, que custou 12 milhões de euros ao Benfica ou Danilo que custou quase 20 ao Porto. A aposta leonina na formação foi uma necessidade. Foi juntar o útil (não gastar dinheiro que não se tem) ao agradável (aproveitar a qualidade dos talentos formados no clube). Ao contrário disto, Benfica e Porto sempre tiveram fundos para oferecer os jogadores que os treinadores exigem (tome-se por exemplo o caso de Lopetegui que teve tudo o que pediu, com jogadores bastante caros que pouco ou nada renderam).

Mas os tempos estão a mudar. A banca está a fechar a torneira aos clubes. E se os clubes portugueses (mesmo os três grandes) sempre foram vendedores, agora ainda mais. O orçamento é mais reduzido. Correm-se menos riscos no momento de comprar jogadores estrangeiros e existe quase a obrigação de aproveitar os jovens da formação. Algo que o Sporting já faz. Algo que o Benfica deixou claro ir fazer. E algo que o Porto, pelo menos é nisso que acredito, acabará por fazer. A novidade aqui prende-se com o Sporting que parece disposto a abrir os cordões à bolsa para satisfazer o exigente Jorge Jesus, adepto de jogadores feitos e pouco dado a jogadores da formação, sobretudo portugueses. E aqui tenho por exemplo os seis anos no Benfica onde deu alguns minutos (e não muitos) apenas a André Gomes, jogador do qual abriu mão sem qualquer problema quando muita falta lhe fazia. E estas novas realidades dos dois lados da Segunda Circular deram início a diversos comentários.

Já ouvi coisas como: “Se o Jesus não aposta na formação vai abdicar de Patrício, Adrien e por aí fora”. E uma coisa nada tem a ver com a outra. É certo que estes dois exemplos, entre outros, são jogadores formados no Sporting. Mas são jogadores feitos, com vários anos de primeira equipa e com diversos jogos. Apostar nestes jogadores não é apostar na formação. Quando se diz que Jorge Jesus não aposta na formação, significa (e mais uma vez tomando como exemplo o seu percurso no Benfica) que os jovens talentos da equipa b vão ter um acesso mais limitado à equipa principal e dificilmente algum irá triunfar na equipa. Só o tempo é que dará resposta a isto mas é público que Jorge Jesus já exigiu jogadores feitos e que Tobias Figueiredo, este sim um jovem da formação que fez uma boa época, já foi despromovido para último defesa-central da equipa. Ou seja, só jogará em último caso, quando os dois titulares e o suplente não estiverem disponíveis. Mané foi outro grande talento esta época. E aparentemente também será despromovido. Jorge Jesus promete valorizar Carrillo, quer ficar com Capel e exigiu o regresso de Labyad. Outro sinal indicativo do menor espaço de manobra para Mané, que Marco Silva elogiou no final da Taça dizendo que estava ali uma excelente solução para a partida de Nani. É certo que só o tempo dará resposta à aposta (ou não) de Jorge Jesus na formação mas o seu passado revela sinais de que as coisas irão mudar em Alvalade.

Também já ouvi coisas como “O Benfica vai promover cinco jovens mas depois não são titulares. Isto é que é apostar na formação?”. E a resposta é afirmativa. Sim, isto é apostar na formação. Apostar na formação não é pegar em cinco miúdos e fazer dos mesmos titulares imediatos na equipa principal. Apostar na formação é contar com esses cinco jovens para a composição final do plantel principal que este ano será mais reduzido. Aqueles jovens sabem que vão integrar o plantel principal. Não vão andar a saltitar entre os treinos da equipa b e da principal. Vão habituar-se às rotinas. Aos métodos do treinador. Aquilo que é exigido. E vão ter de lutar para conquistar o seu espaço. Depois, com o treinador certo, e Jorge Jesus neste domínio não é, vão ser lançados aos poucos na equipa principal (o melhor exemplo disto é o Barcelona). E esta aposta motiva não só aqueles jovens como os restantes jogadores da equipa b e dos outros escalões de formação. E era isto que deveria ter acontecido com Bernardo Silva e com João Cancelo, entre outros.

Estas apostas são importantes em diversos aspectos. Os clubes investiram dinheiro nestes jovens jogadores. Se lhes oferecem contratos profissionais é porque reconhecem talento e margem de progressão. Aproveitar estes jogadores reduz a massa salarial porque são mais baratos e não implicam o gasto de uma contratação. Se calhar a maior parte dos adeptos do Benfica não têm noção de que o clube teve mais de vinte(!!!) jogadores emprestados na última época. E é isto que o clube, neste caso o Benfica mas não só, tem de mudar.

Depois existe a questão da competitividade. O Benfica passa ter uma equipa mais fraca e o Sporting uma equipa mais forte? Não necessariamente. E é por isso que o Benfica não pode pegar em miúdos e fazer deles titulares em semanas. E o Sporting é um exemplo disto. A aposta forçada na juventude como espinha dorsal da equipa resultou numa longa ausência de conquistas. A solução passa pelo equilíbrio. Jogadores feitos e alguma juventude. E isto é algo que favorece todos, sobretudo os mais novos que têm uma integração mais fácil.

Resumindo, o futuro do futebol, sobretudo em Portugal, passa por um aproveitamento melhor da formação. E como devemos seguir os melhores exemplos, é olhar para o Barcelona e para o aproveitamento que é feito dos jovens da formação. O pior é que por cá exige-se tudo em pouco tempo. Não se quer apenas formação, espera-se que um jovem de 20 anos seja a estrela maior da equipa e que resolva os problemas todos. E quando algo corre mal, o que é normal, é crucificado.

4 comentários:

  1. Já gostei muito de futebol, mas nos últimos anos tenho estado cada vez mais desligado porque penso que as regras do futebol ficaram paradas no tempo e ninguém esta realmente interessado em resolver as injustiças nos resultados provocados pelas más arbitragens que condicionam uma partida de muitas formas, criar meios tecnológicos para que os árbitros possam decidir correctamente .....
    Os jogadores fazem muito anti-jogo, simulam faltas que não existiram, discutem em demasia...
    Não existe cultura de espetáculo e por esse motivo se o jogo não estiver a ter pontos de interesse desligo a tv e vou fazer outra coisa.
    É raro ver um jogo do principio até ao fim.
    Espero que para o ano o campeonato seja mais emotivo.

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    1. Acho que o problema nem está nas regras, na sua generalidade. Acho que temos um campeonato fraco e com bilhetes muitos caros, o que afasta as pessoas. Aquilo que referes, do anti-jogo, é uma mentalidade muito nossa, infelizmente. Quando saem de cá e vão para bons campeonatos deixam de o fazer.

      Acredito que o próximo campeonato vai ser muito emocionante.

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  2. Nenhum dos clubes abordados no texto me dizem nada, contudo revejo o exemplo do Rúben Neves no F.C.Porto que pode perfeitamente encaixar no tema que se esta a abordar, jovem de formação, integrado gradualmente, já se nota perfeitamente que quando joga esta perfeitamente à vontade no relvado e mais importante com os colegas. Penso que o facto de fazerem parte do plantel é importantissima nesse processo, os jogadores vão ganhando o respeito uns dos outros. Faz lembrar a celebre história do Paulinho Santos(P.S.) e do Cândido Costa(C.C.) no seu primeiro treino em que o C.C. fica todo feliz ao ver a distribuição dos quartos no campo de treinos e vai feliz dizer ao P.S. que vai ser seu colega de quarto, P.S. ao maior nível diz-lhe, otímo, leva os meus sacos para cima então!
    Ora, isto num caso de homens já feitos, C.C na altura já teria 20 e muitos anos, imaginem a miudos que chegam com 17 e 18 anos o que acontece.
    Não podia estar mais de acordo quanto à resposta ao comentário nº1, em Portugal pagamos demasiado alto o preço do Futebol, não apenas nas ligas principais mas também nos escalões abaixo, como no CNS(Campeonato Nacional de Séniores) onde já se encontram facilmente os bilhetes a 12 e a 15 euros!
    Não são os adeptos que acabam com o futebol, o futebol é acaba com os adeptos!!!

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    1. Apesar de não gostar do treinador do Porto dou-te razão no exemplo do Rúben Neves. E é isso que deve acontecer e gradualmente. Não é pegar em cinco jovens e fazer dos mesmos titulares imediatos. Paulinho Santos no seu melhor :)

      Acho que Portugal necessita de regras parecidas com o campeonato inglês em que os estrangeiros não comunitários têm de obedecer a regras. Isto obriga a uma maior aposta, sobretudo nos jovens, do país.

      Os bilhetes em Portugal, tendo em conta as condições e jogos, são demasiado caros.

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