19.2.15

agora escrevo eu #32

Depois de alguns meses de ausência, volto a dar vida a este espaço onde publico os textos que me enviam. Para já tenho de pedir desculpa a quem me enviou textos que ainda não publiquei. Peço desculpa pelo meu desleixo mas todos os textos vão ter o seu espaço aqui. Recordo também que quem quiser participar – pois esta rubrica não tem data de validade – só tem de enviar um email para homemsemblogue@gmail.com com o seu texto e com “agora escrevo eu” no assunto do mesmo. Identificar o autor do mesmo é algo que deixo ao critério de quem envia o texto.

Para recuperar este espaço publico um texto de Ana Tavares, autora do blogue A mamã é só Minha, e que tem como tema a polémica em torno dos sacos de plástico que passam a ser vendidos a dez cêntimos. Será que pagar por um saco faz de nós amigos do ambiente? Será que é assim que se resolvem os problemas? Ou será que nos querem enganar fazendo de nós amigos do ambiente a troco de dez cêntimos o saco? No seu texto, que começou por ser um desabafo na sua página pessoal de facebook, Ana defende o seu ponto de vista, recorrendo também a duas imagens para passar a sua mensagem.

“0,10€ por um saco de compras?

A sério? UAU! Parece que, finalmente descobriram a fórmula mágica para acabar, com essa praga de sacos inúteis. Vou começar a dar esse dinheiro todo por um saco, como penalização pelas poucas vezes que me esqueço de levar o meu saco amigo do ambiente às compras, e pelas vezes que preciso de sacos de plástico para colocar nos baldes de lixo e da reciclagem cá em casa. Senhores governantes, já pensaram que, se calhar, graças às vossas políticas de austeridade, há por aí muitos portugueses que nem dinheiro têm para comprar sacos reutilizáveis? Se calhar não! Pessoas, que “enchem o papo”, à custa do povo, dificilmente têm a capacidade de se colocar no lugar do outro.

É isso mesmo, levem tudo o que puderem, extorquem-nos até ao tutano! Alguém tem de pagar os vossos carros de alta cilindrada, não é? Já agora, até posso dar uma sugestão, e que tal começarem por dar o exemplo e trocarem os vossos luxuosos automóveis por carros eléctricos? Se calhar fazia alguma diferença no ambiente, não?

Esta medida não vai melhorar em nada o ambiente, apenas vai penalizar os portugueses. Porquê? Porque a culpa não é dos sacos. Se os sacos vão parar ao mar, conforme alegam, a questão é outra: falta de civismo.  Considero uma tremenda injustiça castigar uma nação inteira, porque há pessoas que não são responsáveis pelos sacos que usam. Provavelmente são as mesmas que atiram beatas para o chão, lenços de papel, e outro lixo…  E que tal apostarem mais na educação? Seria bem mais benéfico e traria resultados em mais áreas.

Não tenho formação na área do ambiente, mas tenho outra coisa, que vocês governantes, que apenas sabem subir e aplicar impostos, não têm! Tenho um enorme respeito pela Natureza. Reciclo tudo, mesmo tudo! Sou dos melhores exemplos que conheço a poupar água. Sempre que possível compro o que é nosso, para evitar que os produtos viagem kms. Olho para as embalagens e escolho com consciência.


E é aí que deviam intervir, só para começar. Que tal aplicar multas às empresas que enganam o consumidor com grandes embalagens mal cheias e que não respeitam o meio ambiente? Proibir a entrada de produtos em Portugal com embalagens mal cheias, e criar uma lei que obrigue as nossas empresas a ajustar as embalagens/invólucros à quantidade de produto. Pegávamos em menos peso a transportar as compras pelas escadas acima e poupávamos também dores de costas e idas ao centro de saúde, comprávamos menos medicamentos e fazíamos menos lixo… Com um simples gesto como este, ficávamos todos a ganhar, inclusive mais espaço na despensa e nos Eco Pontos.

Por outro lado, os transportes de mercadorias ganham mais espaço e podem transportar mais produtos por viagem, reduzindo dessa forma milhares de viagens e também emissões de gases poluentes emitidos pela queima dos combustíveis, que por sua vez, reduz também o aquecimento global.

O que é que vai acontecer agora? Os portugueses vão resistir durante alguns meses e não vão comprar os referidos sacos, optando pelos sacos ditos “amigos do ambiente” (alguém vai ganhar muito dinheiro com isto). Entretanto vão-se esquecendo e habituando-se ao novo preço dos sacos e voltam aos velhos hábitos (alguém vai ganhar muito dinheiro com isto).  Quanto ao ambiente esse vai continuar no esquecimento porque tudo isto não passa de uma manobra para encher os cofres de alguém. Se a preocupação com o ambiente fosse verdadeiramente genuína, havia tanto a fazer…”

Ana Tavares
Autora do blog “A mamã é só minha” 

17 comentários:

  1. Completamente de acordo...

    http://janeiroemparis.blogspot.pt/

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  2. Por acaso é um assunto que me toca particularmente pois o ambiente faz parte da minha formação académica e desde o primeiro ano que os sacos plásticos são tema de conversa... há vários tópicos em que concordo com a Ana mas convenhamos que tem uma postura ambiental muito diferente do comum dos portugueses...Cada português consome em média 500 sacos plásticos por ano...ora somos 10 milhões é só fazer contas... e qual o destino final deste resíduo que tem um tempo de vida tão grande? se nos colocássemos na posição de governantes como reduziríamos este número? A agência Portuguesa do Ambiente tem disponível no seu site um documento interessante sobre o assunto. Aqui fica: http://www.apambiente.pt/_zdata/DESTAQUES/2014/Sacos_Plasticos_PerguntasRespostas.pdf

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    1. Obrigado pela partilha. Entendo que podem ser feitas muitas coisas e são mesmo necessárias muitas coisas e muito trabalho para educar o povo.

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  3. Choca-me é ver tanto choque com esta medida. Moro em França há cinco anos e rapidamente me habituei em levar um saco de pano ou um carrinho de compras (destes (http://media.meltyfashion.fr/la-ligne-de-caddies-de-la-marque-derriere-image-367473-article-ajust_930.jpg) para as compras da semana para o supermercado. Para quem não tem dinheiro para sacos recicláveis há certamente sacos em casa de todo e qualquer tipo que possa ser usado para fazer compras. Vejo pessoas em França a usar desde mochilas, a sacos de mão bastante estragados, a sacos da H&M, Zara ou Fnac. Há sempre uma alternativa até se conseguir acabar com todos os sacos que se tem em casa até ao momento que se dá 50 centimos ou 1 euro por um saco "do ambiente".

    Para o argumento de os sacos serem usados para apanhar os cocos dos animais, argumento muito utilizado na blogosfera, o que vejo os franceses a fazer é usarem os sacos de plástico onde se põem a fruta e os legumes quando a mesma se pesa nos grandes hipermercados (que esses, pelo menos aqui, continuam grátis, tal como aí). Se não, nada como usar jornal, papel publicitário ou sacos provenientes de lojas. Vejo aqui as pessoas a arranjarem soluções.

    Mesmo com tanta coisa contra, a verdade é que é um passo para a redução da utilização exagerada de sacos de plástico. Se há tanto para mudar para além disso? Claro que há, haverá sempre. Portugal não nasceu com uma cultura verde, amiga do ambiente. É algo que vai ter que se incutir, a pouco e pouco. Começar por algo básico e normal já em tantos países, parece-me bem. Mesmo que seja para engordar os cofres do estado e a não incutir uma cultura verde nos portugueses, concordo a 100% com a medida.

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    1. Concordo com tudo o que disse. Olhar para os números é realmente assustador. Apesar de compreender algumas opiniões que são contra a medida, alguma coisa tinha de ser feita!

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    2. Concordo, também não percebo muito bem tanta polémica. Se se faz alguma coisa, é porque faz, se não se faz, é porque não se faz... Aqui na Irlanda os saquitos de plástico custam não 10 mas 22 cêntimos, e as pessoas andam todas com sacos de pano ou daqueles mais resistentes dentro das malas e das mochilas. Não custa nada e é uma questão de hábito. E é por um ambiente mais sustentável, logo, melhor para todos nós.

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    3. Não me choca a medida nem sou contra ela. Aquilo que me aborrece é que se dê a entender que aquilo que interessa é ser amigo do ambiente. Isso é que me incomoda. De resto, acho que é uma questão de hábito levar um saco. Aliás, costumo fazer compras numa superfície em Espanha, onde os produtos são mais baratos e em maiores quantidades e há muito que eles não dão sacos. Existem muitas coisas que podem e devem ser feitas para educar o povo. Dizer simplesmente que pagam para ser amigos do ambiente não me parece a melhor solução.

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  4. Em minha casa esta medida já tinha sido implementada há uns tempos e hoje posso dizer que acaba por ser uma questão de hábito levarmos os nossos próprios sacos. Como disse hoje no meu blogue, os sacos mais resistentes custam 50 cêntimos e duram uma vida. É um investimento que se faz hoje e não temos de gastar mais dinheiro em sacos. As questões que a Ana abordou são válidas, claro. Mas se deixarmos a política um bocado de lado, não é melhor fazer este esforço inicial e ajudarmos, nem que seja só um bocadinho, a preservar o ambiente? Porque eliminar os sacos leves faz mesmo muita diferença, embora possa não parecer. Quando são depositados em aterros e lixeiras, além de serem precisos centenas de anos para se degradarem, dificultam a degradação de todos os outros resíduos.
    Mas, já agora, concordo absolutamente com as outras questões que levantou. É um escândalo as meias embalagens que nos impingem e também tenho o cuidado de comprar produtos portugueses.

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    1. Acho que existe muito a fazer. Mas com isso ninguém se preocupa.

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  5. O meu cão só bebe água que vou buscar em garrafões a um fontanário, essa água serve também para baldes para lavar o chão e é potável mas não arrisco. Subscrevo a nota das embalagens, não só dos detergentes mas as de ração para cão e gatos, são uma vergonha... E lá vai o homem cá da casa com uns supostos 20 kg de ração escada acima... Sim mais civismo nessa hora.

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  6. E claro cada carro tem sempre sacos dos grandes e dos de plastico conforme o volume do que vamos buscar

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  7. Já há alguns anos que uso sacos que das compras que faço de roupa e outros artigos de roupa , da farmácia, das editoras ou compro os de poliéster, mas acontece a qualquer pessoa esquecer-se de o meter na carteira.
    Aí, sim, pago o saco de plástico que uso sempre que preciso e até não ter mais utilidade.
    Outra coisa que faço sempre, e porque detesto os sacos sujos e que cheiram mal, é lavar os que trazem a carne, o peixe e os legumes do supermercado. Seco-os porque vou utiliza-los de novo , mas se não têm utilidade, vão para a reciclagem lavados.
    Tento não desperdiçar nada porque se há coisa que mais me entristece é , nesta altura do ano, ver as praias cheias de lixo.
    As pessoas não têm cuidado, não protegem a natureza ... Mas esta não se esquece de trazer de volta o que foi deixado / lançado na praia e no mar.
    O povo português está muito aquém dos bons costumes e dos valores que noutros tempos, os nossos pais nos davam que, quer por medo, quer por respeito, eram os pilares da na nossa educação.
    Gostei, Bruno, da rubrica de hoje e especialmente dos comentários.



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    1. O nosso grande problema está na mentalidade e na educação (falta dela) das pessoas.

      Obrigado.

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  8. Ela tem toda a razão, concordo totalmente.

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