27.2.14

o que farias se não tivesses medo?

Tens medo de deixar de fazer rir? Esta é uma questão que frequentemente se coloca a um palhaço, por exemplo. Ou a tantas outras pessoas que fazem da missão de fazer sorrir os outros a sua profissão. Ao fazer esta questão – sou das pessoas que o fazem – esquece-se que fazer rir não tem de ser apenas um talento. É verdade que o é mas é igualmente uma profissão.

Com isto quero dizer que ninguém pergunta a um médico se tem medo de deixar de detectar sintomas num paciente. Ninguém pergunta a uma cabeleireira se tem medo de deixar de saber cortar o cabelo ou fazer californianas a alguém. Tal como ninguém pergunta a um jogador de futebol se tem medo de deixar de saber jogar futebol. E, bem vistas as coisas, é um medo equiparado aquele que se coloca, em forma de questão, a um palhaço que faz rir.

Pessoalmente, vivo com medo. De deixar de saber escrever. Tenho receio de chegar à redacção e de ser incapaz de articular um qualquer texto que me seja pedido pelos meus chefes. Tenho medo também de chegar o ponto em que não seja capaz de escrever no blogue. Tenho medo desse vazio, sobretudo na área profissional, que me deixaria horas em frente ao computador sempre a escrever e apagar aquilo que escrevia. Mas não é só profissionalmente que tenho medo.

Tenho também medo de deixar de amar todas as pessoas que amo. Tenho igualmente medo de fazer com que essas mesmas pessoas deixem de me amar. Tenho medo de perder os poucos amigos que tenho. Tal como o inverso. Tenho medo desiludir os meus pais ou qualquer pessoa que acredita em mim, naquilo que sou e para onde pretendo caminhar. Resumindo, a minha vida é uma soma de medos. Uns mais intensos. Outros mais tímidos. Mas medos que se ligam num ou noutro ponto.

O que farias se não tivesses medo? é uma pergunta que faço com frequência. E encontro diversas respostas para a mesma. Arriscava mais aqui e ali. Não pensava em certos detalhes. São apenas algumas respostas entre uma série de outras possíveis. Mas, mesmo assim, espero nunca perder os medos que tenho e que me acompanham 24 horas por dia.

E a razão é simples. São esses medos que me equilibram. São esses medos que puxam por mim. São esses medos que fazem com que não baixe a fasquia e queira dar sempre o meu melhor. São esses medos que impedem que quebre e ceda em momentos chave. Se algum dia perder esses medos irei desleixar-me. Irei perder equilíbrio. E irei perder qualidade em muitos aspectos da minha vida. O que farias se não tivesses medo? Fazia muita coisa. Mas o medo guia-me a muitas outras onde não chegava sem ele.

16 comentários:

  1. Percebo-te. Todos temos algum medo. O meu principal é o de não conseguir ser tão positivo como costumo ser.

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  2. O medo acompanha-nos ao longo da nossa vida (na profissão, na sociedade, na saúde/doença, na família...).
    Por vezes, antecipamo-los, imagináno-los sem razão, mas a nossa mente é mesmo assim.
    E são eles que nos fazem lutar, questionar, reflectir, decidir, resolver, optar, seguir em frente...ou não.
    Sem medos não conseguiriamos chegar mais longe.
    Eu tenho medo de muitas coisas e já vivi muitos medos que me levaram a enfrentar situações delicadas.
    Os medos são a nossa batalha, nós somos os guerreiros.
    E tu és um excelente guerreiro porque tens consciência de quem és, do que fazes e do que escreves.
    Não te conhecendo, mas lendo-te várias vezes aod dia, tenho uma grande admiração por ti.
    Um grande abraço.

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    1. Nem sei o que te dizer. Fico sem jeito com tantas coisas exageradas que dizes. Muito obrigado.

      beijos

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    2. Não são exageradas, são a realidade do que leio por aqui.
      Bom fim de semana.
      Beijinho

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  3. Nunca tinha pensado neste ponto de vista perante os medos, mas sim é verdade... concordo. Muitas vezes esse medos são os nossos limites necessários para termos a estabilidade!!;)
    beijocas e duvido muito que um dia percas a capacidade de escrever... desse medo acho que te podes "libertar um pouco" pois escrever faz parte da pessoa que és, sobretudo para aquelas que te vão conhecendo apenas desta forma!;)

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    1. Muito obrigado Luísa!

      É bom ler coisas como as que escreveste.

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  4. Esse medo nunca vai deixar-te e tu nunca vais parar de escrever assim... É delicioso ler o que escreves! Até mesmo quando brincas com algo, escreves com eloquência e saber. Está-te no sangue HSB, isso é um dom. :)

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  5. Se deixasse de ter medo: despedia-me amanhã.
    Mas tenho medo e tento manter o emprego a todo o custo, engolindo sapos e sapos...
    vidademulheraos40.blogspot.com.

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    1. Sim, já tive pensamentos desses. E já esteve quase quase a acontecer.

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  6. Todos nós temos medos. Alguns deles, em alguns momentos, podem toldar-nos a visão que temos das coisas. Mas ainda assim acho saudável ter medos, precisamente pelos motivos que apontas no último parágrafo.

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  7. Vejo-me muito neste texto também sou uma pessoa que reflecte medos em quase tudo. Só eu sei, não os transmito muito, mas tenho esses todos que referes e mais alguns. Pessoalmente, nunca tinha visto um lado positivo de ter medos. Mas esta frase diz muito "São esses medos que impedem que quebre e ceda em momentos chave"

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