24.2.14

faca de dois legumes

Gosto de Paulo Fonseca. É um treinador que aprecio. Aliás, era uma das minhas opções para o Benfica – a par de Marco Silva – caso Jorge Jesus tivesse saído no final da época passada. Percebo a frustração dos adeptos do Porto. Afastados da Liga dos Campeões, numa posição frágil na Liga Europa, numa situação irremediável no campeonato – se o Benfica vencer hoje – e agarrados somente a duas taças (três se ganharem na Alemanha na quinta-feira). É muito pouco para quem se habituou a muito ao longo dos últimos anos. A equipa joga mal, muito mal e já tem mais derrotas do que ao longo dos últimos três campeonatos.

Nestes casos, o treinador é sempre o elo mais fraco. Mas, olhando de fora, não vejo Paulo Fonseca como o principal problema do Porto. O clube tem o pior plantel dos últimos anos. A equipa é uma tímida sombra do que foi num passado recente e raramente jogou bem esta época. Mas será que Paulo Fonseca é o único responsável disto? Será que foi Paulo Fonseca que quis comprar jogadores que não jogam? Será que lhe deram aquilo que pediu?

Na minha humilde opinião, Paulo Fonseca é apenas uma vítima naquilo que considero ser a guerra de sucessão pelo trono do clube. Pinto da Costa está cada vez mais perto da saída. É certo que é muito importante mas já não é o líder que era há dez ou vinte anos. E, com o aproximar do seu abandono, aumenta o número de candidatos ao seu lugar. E isso nota-se em diversas coisas do clube. O homem forte das finanças abandonou o barco. E nos negócios dos jogadores todos metem o bedelho. Uma coisa impensável no passado recente do clube.

Voltando a Paulo Fonseca. É um puto nisto dos treinadores. Em 2009 estava no Pinhalnovense. Na época passada faz a estreia na primeira divisão. Uma época de sonho com apenas quatro derrotas. O mal amado Vítor Pereira é despachado. O telefone toca. É o Porto a aliciar com um contrato. Não conheço Paulo Fonseca mas acredito o tipo de coisas que lhe passaram pela cabeça. É um projecto vencedor, um clube organizado com uma liderança forte que é campeão há dois anos. Além disso deve ter pensado na má época do Sporting e também no arrasador final de época do Benfica. Ou seja, analisando as coisas, era aquilo a que se chama uma aposta segura. E a época começou até começou bem.

Agora, vai de mal a pior. Diz-se que já pediu para sair três vezes e que Pinto da Costa não deixou. Algo normal num homem que se orgulha de não despedir treinadores. Mas, hoje, amanhã ou no final da época, Paulo Fonseca terá guia de marcha. E será a única vítima da insistência num casamento que está pior do que um em que o marido/mulher descobre que a mulher/marido o traiu com 1234123 pessoas diferentes.

Paulo Fonseca arriscou pouco ao aceitar ser treinador do Porto. Mas arrisca muito ao não abandonar o clube. E, aos 40 anos, pode entrar num período negro para a sua carreira. Basta ver o que aconteceu a José Peseiro, Domingos e Vítor Pereira (que ganhou títulos), apenas para dar dois exemplos, depois de más experiências em clubes de grande dimensão. Como não engolem o orgulho e não são capazes de treinar clubes modestos em Portugal por entenderem que são treinadores para “um grande” voltam-se para o mercado estrangeiro, onde abraçam projectos muito inferiores aos que têm em Portugal.

E, acredito que isto é o que irá acontecer a Paulo Fonseca. Vai sair tão “queimado” do Porto que irá treinar um clube qualquer acabo em “ior” de quem nunca ninguém ouviu falar e que disputa os últimos lugares de um campeonato qualquer. Como dizia Jaime Pacheco, o mítico treinador do Boavista, há coisas no futebol que são autênticas “facas de dois legumes.” Usando a expressão correcta, Paulo Fonseca já sentiu os dois gumes da mesma faca. Espero que Marco Silva não caia no mesmo erro. E que suba com calma. É certo que existem oportunidades que não aparecem duas vezes. Mas há algumas que é melhor deixar passar porque matam todas as que se podem seguir.

Quanto ao Porto, acredito que a guerra pela sucessão pode levar ao descalabro do clube e a uma travessia no deserto, com mais épocas iguais ao rumo que esta está a levar. Mas isso, só o tempo o dirá. Mas é um facto que necessito de um grande exercício de memória para recordar uma época destas no clube que tem dominado o futebol português ao longo dos últimos anos. Tal como é um facto que grandes clubes europeus vivem anos maus depois de grandes épocas.

E já me esquecia do Evandro.
Num passado recente estive à conversa com Evandro, o jogador do Estoril que marcou o golo ontem. Quem não sabe, este jogador veio para o Estoril apenas para manter a forma até encontrar um clube. Acabou por ser inscrito. E desde então que faz a diferença. Existem jogadores que vivem o momento e pensam na fama momentânea. Evandro não. Tem os pés bem assentes no chão. Sabe que as coisas acontecem quando tiverem de acontecer. E acredito que no final da época dará o salto para um clube de outra dimensão.

Para se ver o tipo de pessoa que é, recordo um momento que me deu a conhecer e que viveu aos 14 anos, altura em que já vivia fora de casa atrás do sonho de ser jogador de futebol. “Se eu ligar a chorar com saudades, não me venhas buscar”, foi o que disse ao pai, num telefonema. Força Evandro. Vais longe. E até espero que não seja muito longe. Entras na A5 e em minutos estás no Estádio da Luz!  

4 comentários:

  1. De facto, o Porto tem um dos piores plantéis dos últimos anos. Há vários jogadores, inclusive do 11 inicial que não jogavam no Benfica.
    Ontem, até o Pinto da Costa não conseguia disfarçar o nervosismo e atacou os jornalistas e a polícia.
    Ah, e o que dizer do gesto do Quaresma que foi para cima dos jornalistas com o carro, "só" para os assustar?
    Lamentável.
    Abraço

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    1. O Pinto da Costa enervou-se com a pergunta mais natural da noite. Isso do Quaresma é ridículo.

      Abraço

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  2. Compreendo, e até concordo, com o que referes no post (Paulo Fonseca ser vítima da guerra da sucessão do Pintinho; plantel mais fraco dos últimos anos; e o deslumbramento de Paulo Fonseca). Mas não consigo ver nele um bom treinador. Pelo menos não um bom treinador para uma equipa dita grande. Nem todos os treinadores que têm sucesso em equipas pequenas têm estofo para as exigências de um clube grande. E parece-me ser esse o caso de Paulo Fonseca.

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    1. Acho que ele acreditou que seria bem sucedido e que teria todas as condições. Só acho mal que o Porto não o deixe ir embora. Coitado do homem.

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