9.10.13

a relação entre animais, crianças e playstations

“Pai, como é que os animais vivem sem playstation?” Foi a pergunta que um adolescente fez ao pai no momento em que abandonavam uma loja de animais. Quero acreditar que se tratou de um apontamento de humor de um rapaz, na casa dos seus doze anos, possivelmente viciado em consolas. Mas, mesmo sendo brincadeira, espelha um pouco a realidade dos dias que correm onde as crianças têm como brinquedo favorito as consolas.

Em jeito de brincadeira costumo dizer que daqui a uns anos as crianças já não nascem com cinco dedos em cada mão mas apenas com três. Neste imaginária “evolução” da espécie, esses são os dedos suficientes para usar um telemóvel e pegar num comando de uma consola ou jogar numa portátil. E a culpa desta evolução tem como principais responsáveis os pais. Que, em alguns casos, são os primeiros a incentivar os filhos a jogar e a evitar que prefiram outras brincadeiras.

Sei que os tempos são diferentes da altura em que eu brincava na rua perto da casa dos meus pais. Sei que existem diversos detalhes diferentes em relação a esses mesmos tempos. Mas, sei também que muitos pais vêem nessas diferenças a desculpa ideal para não dedicarem mais tempo a certas brincadeiras com os filhos. Actualmente, quantas crianças é que sabem brincar com um pião de madeira? Ou jogar ao guelas (berlinde)? E quantas conseguem fazer uma fisga? Ou mesmo um simples canudo e cartuchos de papel? Para não falar de jogar ao 35, ao mata, às cinco pedras ou mesmo ás escondidas?

Mas aposto que quase todas as crianças sabem a combinação de botões para que o Cristiano Ronaldo faça um chapéu ao guarda-redes no PES ou no Fifa. E que quase todas sabem como passar mais um nível no Angry Birds que jogam no telemóvel dos pais. Entre muitos outros truques deste género. Que são elogiados pelos adultos. Não nego que me agrada que os mais novos se adaptem muito melhor às novas tecnologias do que me adaptei quando era mais novo. Isso é bom sinal.

Mas também me agrada saber como é que os animais vivem sem playstation. E saber como é que eu me divertia sem uma (até porque só quis comprar a minha quando já tinha quase vinte anos). Agrada-me olhar para trás e recordar os jogos de basebol no meio da rua. Os jogos de futebol com os bancos de jardim a fazerem de balizas. Os raspanetes por atirar cartuchos para a varanda da vizinha. Os jogos de escondidas. Do 35, do mata e das cinco pedras. Os jogos de sueca na entrada do prédio. As competições de guelas. E os concursos para ver qual era o pião que mais rodava sem cair. E também me agrada ter poucas memórias de largas horas passadas à volta de uma consola. Não vou mentir. Esses momentos também existiram. Mas, muito esporadicamente.  

15 comentários:

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    1. Joga-se na estrada. O espaço de jogo é um rectângulo. Nos quatro cantos fazes um quadrado. No centro um círculo com o numero 35. Existem duas equipas. Uma está dentro. A outra está fora. A equipa de fora tem uma bola de ténis. Os de dentro começam do centro. Depois correm de quadrado em quadrado tendo que pisar 34 quadrados antes de pisarem o círculo central. Por sua vez, os de fora têm que acertar com a bola nos de dentro quando estes estão a mudar de quadrado. Também podem perguntar em quantos vão e onde começaram. Se a pessoa não souber vai ao círculo central e pode levar com a bola e ser eliminado. Se se desviar, começa a contagem de novo. Quando os de dentro são todos eliminados, as equipas trocam.

      Se quiseres podemos jogar quando vieres cá :)

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  2. Ultimamente qd estou com o meu melhor amigo ( sao 18anos de amizade ) é comum os restantes nos ouvirem relembrar com saudosismo as futeboladas a 2 ou com miudos que nao conheciamos, as raquetadas na praia mesmo durante o inverno, o jogo do mata, futebol humano, á mosca ( em que era o maior do bairro lol ), escondidas etc...tb jogavamos Mega-Drive e sega saturn, mas disso nao temos saudades.

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  3. "Cyborg"

    Desde que me lembro, passei a infância alternada entre jogos de consola, brincadeiras de rua e outras actividades que me enriqueceram. Foi um modo de me estimular, adquirir bases, ajustar a lógica com a intuição, e devo contudo realçar de que as consolas no bom sentido ajuda desenvolver um conceito abstracto que para muitos é difícil quando se tem um problema versus deficiência. Era como tentar perceber porque as gotas de chuva não tem cor definida, são transparentes, mas o que significa ser transparente se não existe cor? Ou o que é o vento? Não se vê, não se toca, não é um objecto digamos pesado, que dê para agarrar, e para tentar perceber o conceito da palavra associada ao vento, dentre outras explicações mais simples que podem dar a uma criança. São memórias e sobretudo aprendizagens. Jogar em demasia nos tira um sentido de realidade, é verdade, e há aqueles que passam a vida confinados num cubo de quatro paredes sem fazer uma única pausa, senão para comer, ir ao wc e dormir. É assustador, conheço um que é assim, infelizmente, o vício destrói lentamente por culpa desses pais que não souberam impor regras.

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    1. Deve haver um equilíbrio mas nos dias que correm acho que muitas pessoas ignoram este tipo de brincadeiras que são muito saudáveis.

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  4. Da infância tenho as mais belas memórias...nessa altura nem as consolas ainda existiam...mas sabia sempre a que brincar que coisas inventar e perdia-me no tempo e no espaço da brincadeira que podia levar-me aos mais estranhos e maravilhosos mundos...Mãe tardia...na verdade tenho idade para ser avó dos meus filhos, saltei uma geração na compreensão da coisa e espanto-me por vezes em alguma dificuldade que os pequenotes têm em arranjar brincadeiras do nada como eu arranjava...no entanto olhando bem e com atenção o seu imaginário é riquíssimo e também eles viajam por mundos maravilhosos e fascinantes...partem de outros portos (não obrigatoriamente de playstations, os meus não têm) fazem outras viagens...mas como todas as crianças em todos os tempos creio que têm as mais maravilhosas aventuras que poderiam ter...e tenho a certeza que terão também um precioso baú de recordações que não se limitará ao ecrãn de um computador...e corresponderá simplesmente a uma outra forma de descoberta do mundo...não concordas?
    Bjs
    Maria

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    1. Acho que nos dias que correm faltam mais brincadeiras como as que tive e tu tiveste. Não digo que as crianças sejam infelizes porque certamente não são mas vivem mais o virtual do que o real. E isso é algo que me entristece e que não vou querer para o meu filho(a) quando for pai.

      beijos

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  5. Geração 3G...enfim...nem sabem o que perdem com "coisas" bem mais simples :)

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