18.9.13

agora escrevo eu #17

“Será que já não se morre de amor?”, é aquilo que pergunta Liz. Uma questão pertinente. Que dá que pensar. Que dá pano para mangas E que consegue ser um tema tão apaixonante como o próprio amor. Eu quero acreditar que ainda se morre por amor. Pois isso significa que ainda se ama. De verdade. De forma sincera e pura. Como o amor deve ser.

“Será que já não se morre de amor?

Reza a lenda que a última mulher a morrer de amor se chamava Maria Callas e o seu coração parou de bater no dia em que o amor da sua vida, Aristoteles Onassis, se casou com outra que não ela. Dizem que lhe deu o corpo, a alma, a voz, a ele, que não gostava de a ouvir cantar, argumentando que era estridente, irritante. A ela nunca lhe deu o título de esposa, foi sempre a outra, a amante, a boneca de luxo que um armador grego tomou como sua, mais por status do que por amor. E dizem que ela morreu de amor, de desgosto, que definhou até uma magreza que lhe corroeu o corpo e a alma e que, muito antes do corpo ter desistido, já lhe tinha roubado a essência que fez dela em tempo, a diva máxima do canto lírico.

Contudo, eu que nada sei destas coisas do amor e do que sei, mais-valia nada saber, sei que todos os dias alguém morre de amor, simplesmente, o serviço nacional de saúde não sabe como contabilizar os óbitos por amor. Serão os enfartes, as anemias extremas, as depressões crónicas? Escasseia uma categoria, que tem tanto de poética como de verdadeira, que permita um qualquer médico numa qualquer sala de urgência dizer “às 15 horas do dia 18 de Maio de 2013, ela morreu por amor”. E eu sei que ainda se morre por amor.

Porquê? Porque o amor é o ar debaixo das asas, o sol quente num dia de Verão, uma caneca de chocolate quente no Inverno, a gargalhada de uma criança, um mergulho num mar gelado. O amor é a força motriz que nos indica que o objectivo do coração é bem mais abrangente do que a simples tarefa de bombear sangue pelo corpo ou não ficaria ele descontrolado e descompassado quando se vê perante quem o faz bombear. É toda uma reacção física, hormonas são libertadas, as pupilas dilatam, suamos e sentimos arrepios e lá está, o coração grita e explode e bombeia aquela sensação por todo o corpo, deixando-nos meios drogados, a curtir uma valente moca hormonal, dizem, a mais saudável.

E o que acontece quando ficamos dependentes desta droga do espírito? O que fazer? Procurar o nosso dealer de amor, uma e outra vez, mesmo que ele se recuse a vender-nos mais doses pois tornamo-nos maus pagadores, pedimos doses cada vez mais elevadas, muitas vezes, e dizemos que é só mais uma dose, só para aguentar aquele dia, que vamos pagar, faremos qualquer coisa mas vamos pagar, juramos pelo pai, pela mãe, pela alma que já lhe vendemos há tanto tempo e é só mais uma dose. E ele recusa, muda de número, de esquina, pois tem mais a quem vender e a nossa presença, doentes, curvados, dependentes, é má para o negócio pois mostra aos novos consumidores ao que estão sujeitos se entrarem nesta coisa do amor. E se a dose acaba e já não temos mais a quem recorrer, começa o duro desmame, corrosivo, emagrecemos demais, perdemos funcionalidade básicas, caímos na cama ou num qualquer buraco e deixamos-nos esperar que o coração pare, que deixe de bater e que deixe de doer.

Contas feitas, e como disse Miguel Esteves Cardoso, “O amor é fodido” mas antes morrer por o ter vivido, do que viver sem nunca se ter sentido que um dia, quase morremos.”

Liz, autora do blogue Knockin´on Heaven´s Doors 

10 comentários:

  1. E eu que já não me lembrava deste texto :)

    Obrigada HSB :))

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    1. Eles não estão esquecidos. Eu é que nem sempre consigo dar-lhes a atenção que merecem. E o teu texto está fantástico.

      Obrigado eu :)

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  2. Dá que pensar, eu acredito que sim... que se morre por amor... não sei nem quero viver de outro modo... Vivo de amor, seja de que forma for e é tão importante como o ar que respiro, como o sangue que me circula nas veias... uma sonhadora, acredito que só vivemos verdadeiramente quando vivemos tudo com intensidade...

    Beijinhos

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  3. Obrigada pela partilha Bruno e Liz.
    O texto está fantástico.

    Não sei se se pode morrer de Amor, mas sei que se pode definhar de desgosto:(

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  4. A Liz escreve bem. PONTO! E o texto está.... lindo.

    "E o que acontece quando ficamos dependentes desta droga do espírito? O que fazer? Procurar o nosso dealer de amor, uma e outra vez, mesmo que ele se recuse a vender-nos mais doses pois tornamo-nos maus pagadores, pedimos doses cada vez mais elevadas, muitas vezes, e dizemos que é só mais uma dose, só para aguentar aquele dia, que vamos pagar, faremos qualquer coisa mas vamos pagar, juramos pelo pai, pela mãe, pela alma que já lhe vendemos há tanto tempo e é só mais uma dose. E ele recusa, muda de número, de esquina, pois tem mais a quem vender e a nossa presença, doentes, curvados, dependentes, é má para o negócio pois mostra aos novos consumidores ao que estão sujeitos se entrarem nesta coisa do amor. E se a dose acaba e já não temos mais a quem recorrer, começa o duro desmame, corrosivo, emagrecemos demais, perdemos funcionalidade básicas, caímos na cama ou num qualquer buraco e deixamos-nos esperar que o coração pare, que deixe de bater e que deixe de doer."

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