13.2.13

e que tal mostrar o outro lado?


Ocasionalmente as televisões passam reportagens de alunos brilhantes. Daqueles que têm médias perto dos vinte valores. Que são os melhores das suas turmas. Que têm tudo para ter um futuro brilhante. Durante as mesmas, os tais alunos falam daquilo que perspectivam profissionalmente e acabam quase todos por dizer que as ambições profissionais passam pelo estrangeiro. Pessoalmente, começo a achar isto repetitivo e sem grande sentido.

Nos dias que correm, é preciso ser um aluno de vintes para perceber a maior parte das oportunidades profissionais passam pelo estrangeiro? É preciso ser cientista ou ter mestrados para perceber isto? Será que isto só é válido para quem tem excelentes notas? Acho que não…

Mas nem é este o tema principal que me aborrece nestas reportagens. Primeiro, quero dar os meus parabéns a todos os alunos de vintes. Aos das reportagens e aos anónimos. Porém, gostava que a reportagem fosse feita ao contrário. Pegar nos tais alunos de notas elevadas que sofrem com isso.

Ao longo da minha vida estudantil nunca fui aluno de vintes. Por mais que quisesse ser, nunca o conseguia. Nunca consegui passar muitas horas a estudar e além disso, boa parte do meu percurso profissional foi feito enquanto trabalhava. E não me arrependo daquilo que escolhi fazer. Contudo, fui colega de muitos alunos de excelentes notas. E notei que sempre foram os mais pressionados. Até por eles próprios.

No secundário, parte deles desesperou porque apesar da sua excelência nunca conseguiram a média necessária para o curso que desejavam, acabando por seguir segundas opções. Faltava sempre um bocadinho e isso era devastador para eles. Ficavam de rastos quando em vez de um 20 ou 19 tinham um 18,1. Sofriam mais com isso do que aqueles que tinham um nove.

Além disso, na minha vida profissional já trabalhei em locais que recebiam alunos de excelência vindos das melhores faculdades. E muitos duravam poucos dias. Porquê? Porque eram os melhores na teoria mas tremiam perante a prática. Quando faltavam os livros, não sabiam o que fazer. E era isto que gostava de ver numa reportagem. O outro lado das mentes brilhantes. Porque, acreditem ou não, ele existe. O desespero. A pressão de ser o melhor dos melhores. E o insucesso profissional.

53 comentários:

  1. são as chamadas reportagens viciadas...mais do mesmo...

    le-laissez-faire.blogspot.pt

    ResponderEliminar
  2. Também podem mostrar o bulling que muitas dessas pessoas são vítimas! Mais so secundário que na faculdade...

    ResponderEliminar
  3. Sempre fui boa aluna, nunca tive media de 20, mas acabei o secundario com uma media bastante alta e tal como a maioria o estrangeiro, no meu caso NY foi a solucao. Penso que seria muito dificil ter as oportunidades que estou a ter aqui se ainda estivesse por Portugal. Sao opcoes.

    ResponderEliminar
  4. Nunca fui uma grande aluna e ao contrario da maioria, as boas notas começaram a surgir na faculdade. Quando via os meus colegas com essas médias, via miudos extremamente pressionados, em constante stress e que passaram pela faculdade sem a terem vivido. E sim, quando lhes era pedido que por alguma razão fossem práticos e desenrascados...congelavam!

    O estrangeiro está a ser visto como um bicho de sete cabeças quando não o é e se os nossos avós ou tios o conseguiram as vezes sem saberem ler ou escrever e sem perceber patavina da língua que se falava no outro país...porquê que nos temos que ter tanto medo?

    Liz

    ResponderEliminar
  5. Cheguei a receber o prémio de melhor aluna do meu liceu. Mas nunca fui impopular nem deixei de ter namorados por isso. Sempre fui metódica no estudo e estudava muito. Estou há 16 anos na mesma profissão. Mas numa coisa concordo contigo, o que aprendi verdadeiramente sobre o que faço, nenhum livro mo ensinou. Foi o exercício da profissão!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Os meus colegas também não eram mas via-se que eram pessoas que estavam sempre pressionadas.

      Eliminar
  6. Percebo o que queres dizer. Fui aluna de 20's mas nunca fui amiga dos livros. Simplesmente retinha as coisas. E sabes o que te digo? Era uma miúda relativamente popular, sobretudo na faculdade, fiz óptimos amigos, mas a profissão que eu desejava atingir não atingi, simplesmente porque não abrem vagas para a mesma há mais de 6 anos.
    E por isso, independentemente das minhas notas, de ter trabalhado e estudado, sou como muitos dos portugueses e tem um emprego abaixo das suas ambições profissionais.
    Não que seja mau. Mas não era o que queria.
    E sim, a faculdade é importante, no meu ponto de vista, para nos ensinar a pensar, a raciocinar. Isso é inegável.

    ResponderEliminar
  7. nesse campo e em tantos outros das reportagens, só se vê um lado é o que o "povo" quer, se calhar?

    a nivel de ex pessoal, adoro ler sobre as cruzadas, e ouve um dia que me ofereceram um livro "As Cruzadas Vistas Pelos Árabes" e abri novos horizontes, querem formatar as pessoas, temos que ser livres pensadores e não deixar-nos ir pelos opinion makers, apesar de haver na nossa praça, bons falantes...

    ResponderEliminar
  8. Concordo plenamente contigo.
    Conheço alguns casos desses excelentes alunos, teóricos que depois desesperam na prática, talvez por todo o percurso que tiveram ser tão direccionado, programado.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Conheço casos de alunos que são dispensados dos trabalhos porque não sabem fazer nada. E falo do melhor aluno de um curso de uma faculdade, por exemplo.

      Eliminar
  9. E o meu filho que quer ser medico, mas que nao vai conseguir pk so tem 19 a Biologia...ao resto tem 10/12/14...ou seja o sonho dele vem por água abaixo, quando acho que a vocação até estar certa...
    O meu medico diz que tem alunos de 20 teoricamente mas depois nao conseguem receitar um ben u ron para uma dor de cabeça....:S

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Essas profissões são aquelas que acabam por causar mais pressão nos alunos. O que pode ser mau para os mesmos. Espero que não seja o caso do teu filho.

      Eliminar
  10. É bom bom ponto de vista e uma questão pertinente que falas aqui. Como já disseram, reportagens viciadas. Sempre a mesma coisa. Mostram o q já toda a gente sabe. Talvez pensem que mostrar a pressão e bullying q são exercidos sobre esses alunos não seja uma imagem positiva a passar.

    ResponderEliminar
  11. Olha ao ler o teu post lembrei-me que hoje se fala de algo que é importante para superar os desafios da vida, mesmo os profissionais, chama-se " inteligência emocional" que é a capacidade de gerir as emoções e essa assim como muitas outras coisas não se aprendem nos livros é mesmo fruto das capacidades do individuo inatas e outras aprendidas à custa da experiência. Não sei estatisticamente se os alunos de 20 fazem ou não bons profissionais , a nota até pode ser ,em muitos casos,o tranpolim para um emprego, mas depois é a prática que indica quem fica ..
    Também não concordo que alunos de 20 sejam necessariamente pessoas sem vida social e frustradas, conheço algumas que desmentiam essa estatística. No fim o importante mesmo é cada um ser o que é ,sem formatos preconcebidos e não se deixando induzir por estatísticas.
    Nunca diria a um filho ou a um aluno : "tens de ser o melhor!" digo antes :" tens de te encontrar e fazer aquilo que gostes e que melhor conseguires fazer! " porque é aí sim, que se pode fazer a diferença para sermos pessoas mais felizes e isso tanto vivendo aqui ou no estrangeiro..

    ResponderEliminar
  12. Concordo completamente contigo.
    Também gostava de ver abordado nessas reportagens, os alunos médios, que à conta da falta de média para ser médico e das suas experiências de vida, tiveram uma ideia brilhante numa área que adoram, levando muitos deles a criarem o seu próprio negócio.

    beijinhos

    ResponderEliminar
  13. Pois é, nessa e em muitas outras reportagens falta mostrar o "outro lado"...

    ResponderEliminar
  14. Seria realmente interessante mostrar esse lado das "médias excelentes". A pressão (e por vezes obssessão)a que os alunos excelentes estão sujeitos não só por parte dos colegas medianos e mediocres mas também por parte dos próprios professores e instituições educacionais. O mote é "tens que ser o melhor entre os melhores"...há que ter cuidado e muita cautela com a forma como se motiva os adolescentes atualmente.Costumo dizer que é bom motivar mas sem desintegrar ;).
    Há 30 anos atrás não existia esse tipo de pressão, provavelmente porque era suposto estudarmos e termos boas notas, também não existiam os "quadros de honra" para comportamento, melhor média, etc.
    Entrei para a faculdade com média de 19,1 o que significa que tive alguns vintes, alguns dezanoves e alguns dezoitos e alguns dezassetes ;)
    Transmito isso ao meu filho, excelente aluno, e que está sempre nomeado nos tais "quadros", de forma a que encare isso naturalmente, pois é para isso mesmo que vai à escola.
    Sem alardes...estuda-se, trabalha-se, não para sermos "os melhores" mas para "sermos melhores", sapientes;)

    ResponderEliminar
  15. Podia-se dizer tantas coisas sobre este assunto, porque na realidade não existe uma abordagem linear desta questão . Ouseja alunos de vinte não siognifioca a 100% uma vida de sucesso e vice-versa, alunos médios e até inferiores não significa que não possam ter um percurso profissionale de vida brilhante: Sinceramente as faculdades e os estudos dão as hardskills mas no mundo competitivo de hoje cada vez importam mais as softskills...a tua capacidade de comunicares, de lidares com a inovação e a mudança ou mesmo a pressão, a capacidade de liderar...a capacidade de ter uma visão analítica das coisas com a respectiva resolução e não apenas a bela da teoria :)
    Mas esta é a minha opinião...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Partilho da tua opinião mas é um facto que sem prática nada se consegue e perde-se o comboio.

      Eliminar
  16. Há pouco tempo fui dar uma palestra na minha antiga escola secundária e esse assunto levantou-se.
    Na minha opinião os alunos de 20 não chegam necessariamente mais longe. São normalmente pessoas dedicadas e muitíssimo inteligentes mas por vezes falta-lhes a capacidade de adaptação. Não quero com isto dizer que são os alunos "razoáveis" que vão vingar... Mas cada vez mais é necessário termos um conjunto de mais valias que vão além do percurso académico (tal como já mencionaram outros leitores): capacidade de comunicação, pro-actividade, gestão de stress, bom desempenho em equipa, etc.

    ResponderEliminar
  17. Concordo plenamente contigo. O pessoal das grandes notas normalmente não tem inteligência emocional e não consegue adaptar-se ao mercado de trabalho. Acabam por ser pessoas muito teóricas, estratégicas e analíticas, é certo, mas com muito pouco para oferecer no que toca à proactividade e à inteligência emocional. Normalmente são pessoas pouco empáticas e como têm muito medo de falhar seguem sempre em linha recta (by the book) e não acrescentam nada de extraordinário à empresa. Normalmente esse tipo de crânios funcionam muito bem nas áreas mais analíticas, teóricas e de pesquisa.
    Por isso é que digo sempre que as notas elevadas não certificam nada assim como não vejo o sucesso de uma dieta pelo peso na balança.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Por norma são pessoas que se focam tanto nos livros que esquecem o resto e que não sabem o que fazer quando não têm os livros para resolver o problema. Naquele momento em que levam um berro e que lhes dizem que têm cinco minutos para fazer algo sentem-se perdidos.

      Eliminar
    2. Wendy, lamento discordar. Isso é tão verdade como as pessoas que têm más notas também não serem proactivas nem terem inteligência emocional. Lá por uma pessoa ter boas notas não quer dizer que descure as restantes esferas da sua vida. Já pensou que se calhar essas pessoas têm mais facilidade na aprendizagem? Ou que se adaptam melhor ao nosso ensino?
      Com isto não digo que são todos uns génios, mas acredite que isso que fala é a excepção e não a regra.
      E eu falo por experiência própria. Sou aluna de Medicina, entrei com 187,7 na faculdade, mantenho uma média de 14 no meu curso e, como vê, estou aqui a ler blogues, tenho namorado, vou a festas e faço uma vida normal. Simplesmente levo a minha vida académica muito a sério e é uma das minhas prioridades.
      Relativamente à pressão a que estes alunos se sujeitam, aí vou ter que concordar. Sempre coloquei em mim mais pressão até que os meus pais e se não cumprir os meus objetivos sinto mesmo que falhei e sinto uma frustração imensa. No entanto, penso que isto faz parte da vida e temos que ser ambiciosos e sonhar sempre por mais ;)
      Esse estereótipo do aluno que tem notas muito altas é altamente teórico e inadaptado está cada vez mais a cair em desuso.

      Eliminar
    3. Obrigado pelo testemunho MarianaR. Gostei do aqui estou eu a ler blogues ;)

      Eliminar
  18. Não podia concordar mais contigo. Daí que me pasma ouvir pais a dizer que não deixam os miúdos terem actividades extra-curriculares porque isso desvia a atenção do estudo. Ou que não os deixam irem ao cinema com os amigos porque o trabalho deles é estudar e é isso que têm de fazer. Sempre. Isto para mim é escandaloso, mas infelizmente conheço casos de perto.

    Alunos espectaculares não são necessariamente bons profissionais, tal como ter uma imensa cultura geral não faz das pessoas inteligentes.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Os meus pais nunca me pressionaram em nada e isso levou-me a criar uma vontade enorme de não os desiludir. Imagino uma criança que é pressionada por causa das notas.

      Eliminar
  19. Percebo o que queres dizer e concordo. Alguns desses alunos têm sobre si muita pressão, quer deles próprios, quer dos pais, quer dos professores e até dos colegas que às vezes ainda gozam com eles se tiram menos qualquer coisa. É complicado gerir tudo isso. E depois, nem sempre têm a personalidade exigida para se imporem profissionalmente...acabam por ter a teoria toda e a prática perde-se. Muitos deles enveredam pela investigação, o que é um boa opção para esses casos. O problema é que a investigação não tem lugar para todos.

    ResponderEliminar
  20. Ainda hoje tive essa conversa com a minha mãe. Sempre fui boa aluna, entrei com média de 16 para a faculdade e agora tenho uma média de 12. Tenho todas as cadeiras feitas, mas muitas com 10, e não conheço ninguém que tenha tido mais...

    Resumindo: as notas não medem uma pessoas, mas a faculdade (no geral) está de tal maneira manipulada que há cadeiras em que ninguém consegue boa nota! Tal como há outros cursos em que toda a gente passa...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tive professores que detestavam chumbar alguém. Dava muito trabalho.

      Eliminar
  21. Lembro-me muito bem dessa pressão... muito mesmo!

    E da bronca do meu pai, quando tirei um 11 a Filosofia no 11º ano e ele falou comigo como se eu tivesse tirado um 1!

    ResponderEliminar
  22. Bastante interessante. Lido de perto com uma situação do género. Um miúdo que sempre tirou as notas máximas, e agora porque tem dezassetes recusa-se a fazer testes, porque diz que não está bem.

    ResponderEliminar
  23. Concordo plenamente contigo. E também vi casos desses quando andava na faculdade. Agora, uma coisa que eu também acho que influencia é o facto de muitos cursos serem maioritariamente teóricos. E muitos alunos que vão para o mercado de trabalho não sabem aplicar a teoria à prática. Já ouvi várias vezes dizer que muitas empresas preferem trabalhadores que tenham estado no ensino profissional precisamente pela componente prática que é dada.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Bem dito. Acho que apostar no ensino profissional é algo muito lógico nos dias que correm.

      Eliminar
    2. Daí terem surgido as escolas politécnicas. Supostamente são licenciaturas com uma maior componente prática. A minha licenciatura é de politécnico e tivemos quase tanto de disciplinas práticas como teóricas. O problema neste país é que no mercado de trabalho somos considerados licenciados de 2ª. Os outros são srs drs e nós somos só técnicos. Não que eu me importe com o título, porque não importo, aliás acho uma aberração tanta coisa com os drs, mas é triste sermos tratados como se fôssemos inferiores quando não somos.

      Eliminar
  24. Realmente esse é um assunto muito pertinente!
    Tambem nunca fui aluna de 20, mas na faculdade tive um professor, que se nao me engano foi-nos acompanhando os 5 anos que la estive, ele proprio nos costumava dizer que nem sempre os alunos de 20, que são os melhores na escola eram os melhores no mundo profissional.
    Era uma forma de aliviar o clima entre os alunos que eram pressionados por nao terem notas tao altas!
    No meu caso os alunos com as melhores notas em muitas disciplinas eram supervalorizados e as aulas eram quase que so dadas para eles, ficavam sentados na primeira fila e os outros eram dirigidos para as mesas de tras!
    Esse meu professor fez-nos sentir todos iguais e usava esse comentario para o demonstrar, eu nao sou pior profissional porque nao tinha 20's!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tive professores, sobretudo no secundário que nos faziam sentir mal, que só falavam bem dos tais de vintes. Até que um colega meu questionou quem faria pão, prédios e outras coisas se só existissem doutores no mundo.

      Eliminar