28.1.13

a vida do faz de conta


Mais vale parecer do que ser. Mais vale fingir do que ter. Mais vale dar uma de rico do que assumir que se é pobre. Esta é a mentalidade reinante dos dias que correm. Cada vez mais, as pessoas escondem-se atrás de aparências que enganam um grupo reduzido de indivíduos. Sem nunca se aperceberem que os verdadeiros enganados são os próprios.

Ao excesso de aparências e maquilhagens junta-se a falta de originalidade. O que importa é seguir um molde estabelecido por alguém. O que está a dar é a fulana X? Então vou vestir o que ela veste. Calçar o que ela calça. Comer o que ela come. Assim serei aceite pela sociedade. O que está a dar é o sicrano Y? Então vou fazer tudo o que ele faz. Vou furar as orelhas, apesar de não gostar de brincos. Vou usar uma crista apesar de achar o penteado horroroso. E vou tatuar-me apesar de achar que as tatuagens são feias. Assim, vou ser aceite pela sociedade.

A estas cópias juntam-se outras. As comportamentais. Não te vais embebedar? Então não sais comigo nem te adaptas à discoteca. Não és sexy? Então não és minha amiga nem vais sair comigo. Se não vais ficar nas nuvens com algumas drogas não fazes parte do meu grupo. Se não és magra, não és minha amiga que não me dou com gordas.

Estas são algumas regras do mundo de hoje. E muitos passam o tempo a tentar não perder este comboio do faz de conta. E têm como exemplos pessoas que são tudo menos isso. Indivíduos que passam a vida em festas com roupa que devolvem no dia seguinte, ainda com a etiqueta colada. Pessoas que estão sempre nas nuvens com mais um pouco de uma qualquer droga oferecida por aquele amigo porreiro que sonha ser famoso. Estas são as tais pessoas que vivem no mundo das aparências. Que desfilam flûtes de Perrier-Jouët quando no banco não há dinheiro para uma garrafa da água mais barata do mercado.

E quando percebem a realidade e o peso deste comboio constatam que perderam anos de vida. A vida é muito curta. Os flûtes de Perrier-Jouët são fabulosos. Mas a cerveja bebida da garrafa também é muito boa. E o efeito é o mesmo. Basta ver o Carnaval do Rio.

57 comentários:

  1. Olha com muito orgulho sempre me afastei de gente assim dessa que retratas . Ganhei anos? Não sei mas acredita que estou contente com o que sou!:)

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  2. Tão realista este post.
    Infelizmente tens razão...
    Cópias comportamentais, mentalidades mesquinhas, falta de personalidade, noção e auto estima... é o que mais há para aí.
    Lamentável... :-(

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  3. Já falei sobre isso e tenho a mesma visão que tu.
    Tudo actualmente vive de aparências, as pessoas comportam-se dessa forma e quem não segue a carneirada, é excluído, como me acontece a mim em algumas coisas.
    E sinceramente que te diga, deixei de me importar, já não tenho idade para dar valor a esse tipo de coisas. Mas se gosto, realmente não gosto, e acho tudo uma futilidade sem limites que nos empobrece enquanto sociedade.

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  4. O Brasil é um bom exemplo de alegria e felicidade por tão pouco... Been there, seen that. Pessoas pobres, realmente pobres, sem vergonha de dizer e principalmente sem vergonha de ser feliz em quaisquer condições. Também vi, como é óbvio, o outro lado. Há sempre mais lados. Mas preferi reter esse, o das pessoas tão simples e tão de bem com a vida!

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  5. Belo texto!!
    Concordo na plenitude com o que escreveste!!!


    PS: já agora, não é a fazer de conta: o FCP está mesmo a ganhar 2-0 ao Gil :)

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Devo dizer-te que estragaste a minha viagem do ginásio até ao carro. Ia na esperança de ligar o rádio e ouvir outro resultado ;p

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  6. Há sempre "macacos de imitação" por todo lado!
    É deixá-los andar :)))
    Vamos viver a vida da melhor maneira possível, tentando ser felizes e que os outros também o sejam.
    xx

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    1. Há os macacos de imitação e aqueles que gostam de ter esses macacos colados ao rabo.

      xx

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  7. parece q tás a descrever a minha cunhada...lol

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  8. Vou comentar só com uma frase.
    Rico é aquele que não precisa de nada.

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    1. E que é feliz com pouco. E também que não tem vergonha do que é.

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  9. Conheço pessoas assim, e tenho pena, porque algumas pessoas são excelentes pessoas quando estão comigo mas transformam-se em certos ambientes... É claro que todos temos de nos adaptar aos meios em que nos movemos, mas não temos de perder a nossa identidade.

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    1. Conheço alguns casos desses. As pessoas mudam quando são assediadas com certas coisas.

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  10. Eu própria não diria melhor. Retrato bem tirado!

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  11. Posso dizer-te que deixei de ler alguns blogues pelo excesso de consumismo, falsos moralismos ou pretensões arrogantes.
    Enfim...
    Belo Post :)

    http://saladosilenciocorderosa.blogspot.pt/

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  12. Eu acho genial a forma como, hoje em dia, se ostenta a ostentação. É uma coisa que cresce em progressão geométrica. Uma espécie de religião. A mim, dá-me vontade de rir...

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    1. Mas a ostentação é feita por quem nada tem para ostentar. Ostentam aquilo que é emprestado como se fosse deles.

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    2. Claro! Por isso é que assistir à feira de vaidades se torna anedótico. :)

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  13. Uma publicação absolutamente certeira e verdadeira sobre muitas das pessoas dos dias de hoje. Vivem para mostrar que são, que fazem, que têm e esquecem-se de viver a sério, de pensar por elas, de fazer só que sim. Como muito bem dizes, o comboio da vida passa e espremem a vida e não sai nada. Uma coisa que me choca muito, como diz a Palmier aqui em cima, é as pessoas terem orgulho de ostentar, de se fazerem superiores só por terem, acho isso abominável e não fui educada com essa falta de princípios.

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  14. Sabe bem ler coisas assim, obrigado. Tenho fé que ainda existam pessoas que pensam como nós. Tenho dias que me apetece mandar muita gente para ..... porque se preocupam com coisas e dão valor a coisas que não lembra a ninguem. Continua

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  15. Junto-me ao coro para te agradecer, obrigada HSB, às vezes nem sonhas o quanto certeiras são as tuas palavras e o significa ler e sentir cá dentro o conforto de saber que afinal ainda há tanta gente a pensar como eu, obrigada, estava mesmo a precisar de algo assim...logo hoje...obrigada.

    Jinho

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  16. Triste mas verdade. Pergunto-me porque é que parecer é mais importante do que ser nalguns círculos. Será algum tipo de compensação? Será que as pessoas se sentem tão pequenas e vazias que disfarçam com roupas, acessórios, carros luxuosos e a frequência de sítios in a crédito? E será que vale mesmo a pena, no final do dia quando se deitam na almofada e fecham os olhos?

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    1. Acho que passa quase tudo por uma ilusória aceitação na sociedade onde impera o ter e o ser.

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  17. Viver de aparências ??? Not for me ...Gosto muito de ser como sou, independentemente dos defeitos que concerteza também os tenho! Por isso gosto muito desta pequena frase "não existe grandeza onde não há simplicidade, bondade e verdade". Para mim são mesmo 3 características essenciais. devemos ser acima de tudo verdadeiros connosco mesmo :)

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  18. Esse mundo do faz de conta é a procura triste da felicidade. Há a ideia que se te vestires como X e tiveres os tais sapatos e bolsa vais ter o mesmo sorriso que ela tem na foto que a viste.
    Acham que se imitarem comportamentos se convencem a si mesmo que são felizes. Tenho as minhas dúvidas que algum dia o conseguirão.
    Só quando te descobres e percebes que uma cerveja no fim do dia com as tuas pessoas vale mais que um gin no sítio in, só aí consegues ser feliz.
    Muitos não chegam a esse estado iluminado da alma. ;)

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  19. Identifico-me muito com o que escreveste. Qaundo deixamos de "parecer" e começamos a "ser" somos muito mais felizes :)

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  20. O problema das pessoas é que não sabem viver com o que tem e depois caem nesses exageros...

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  21. O que me alarma neste contexto de cópias é perceber quão pouco a maioria das pessoas... gosta de si mesmo. A falta de confiança e auto-estima leva-os a tentar uma aproximação a outra personalidade, a outro ambiente, que provavelmente nem é o estilo e o ambiente que faria aquela pessoa mais feliz.

    "Sem nunca se aperceberem que os verdadeiros enganados são os próprios." Lês-me os pensamentos, HSB.

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  22. Passei a adolescencia a sofrer com o estigma de nao ser magra nem, por arrasto, bem sucedida como as minhas amigas. Logo não era muito popular. Safava-me porque me dava lindamente com rapazes mas sempre fui excluida. 20 anos depois nada evoluiu, pior o mundo do "parecer" ganhou asas e o vazio, pouco interessante mas fashion, ostensivo, belo, atraente, sexy, famoso, consumo imediato reina.

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  23. Grande texto, adorei! Detesto esse tipo de pessoas e não me dou com elas digo te... Mas infelizmente é o que mais há agora....enfim!

    Http://coisasquetaiseafins.blogspot.pt

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  24. Ao ler este texto vejo que partilhamos da mesma opinião. Já escrevi sobre este tema, e um dos textos que é com tom humorístico já foi escrito em 2008 mas poderia ser hoje porque continua tudo igual ou ainda pior.
    Se quiser ler aqui está: http://palavrasemtonsdeazul.blogspot.pt/2008/04/espelho-da-minha-alma.html#.UwiV9eN_uSq

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